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Rodeio

O Rodeio é um evento popular no Brasil, principalmente nas regiões interioranas onde prevalece a cultura caipira (e aqui usamos o termo “caipira” a partir do conceito estabelecido por autores como Darcy Ribeiro e Antonio Candido). Durante o Rodeio, além de festas e shows, acontecem algumas provas ligadas ao manejo com animais (touros, equinos e muares).


Dentre as provas, as principais são a montaria em touro (bull riding), prova de três tambores, cutiano e a prova de sela americana.


Embora o uso de animais para trabalho, esporte e lazer seja muito antigo, o Rodeio moderno possui relação com a guerra entre México e Estados Unidos da América, no século XIX, episódio conhecido como “marcha para o oeste”. Nesse período de guerra, houve uma forte mescla cultural entre os dois países. Dentre essas mesclas, a montaria em cavalos e touros, e a relação entre animais e homem foram fortificadas.


No Brasil, o rodeio surge como um momento de diversão e lazer entre os trabalhadores rurais e tropeiros da década de 1940.


Barretos, município de São Paulo, era uma passagem obrigatória das comitivas de tropeiros e boiadeiros que transportavam gado entre um estado e outro. Durante os pousos, começaram a realizar brincadeiras e desafios relacionados ao cotidiano desses boiadeiros: laçar animais, montar em animais chucros, demonstrar suas habilidades na doma. Os desafios, geralmente, eram feitos pelo dono do animal (com índole de pular demasiadamente) e o peão desafiado.


Segundo Serra (2003, p. 43), no ano de 1955, um grupo de jovens da cidade de Barretos funda um clube batizado de Os Independentes, que tinha como regra inicial para participação, a exigência do interessado ser independente economicamente, solteiro e ter mais de 21 anos.


Em 1956, foi lançada a 1ª Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos e, a partir disso, o Rodeio se espalhou por todo o Brasil, mas principalmente pelos estados que mantém forte relação com a pecuária, como Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.


Em 1964 a fama dos rodeios começa a atrair turistas do Chile, Peru, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Neste ano o evento foi declarado como de utilidade pública em Barretos, em função de sua contribuição para o desenvolvimento econômico do município e benefício a várias entidades assistenciais (SERRA, 2003, p. 43)


Na década de 1980, o local da festa em Barretos foi se revelando insuficiente para atender ao crescimento do número de seus participantes. Fez-se, então, um projeto para uma nova arena em contrato com Oscar Niemeyer. Em 1986, inaugurava-se o Parque do Peão em formato de ferradura e capacidade para 35 mil pessoas sentadas, hoje considerado uma das maiores arenas de rodeio do mundo (SERRA, 2003, p. 43).


Inaugurado em 1985, o Parque do Peão de Barretos é uma área de aproximadamente oitenta alqueires destinados a realização da Festa do Peão de Barretos

Mapa Aéreo do Parque do Peão - Barretos/SP

Em 1993, também na cidade de Barretos, realizou-se o primeiro Rodeio Internacional, com presença de cowboys americanos e canadenses. Na primeira década de 2000, o O Brasil pode ser identificado, no momento, como o segundo país do mundo no tocante ao nível técnico e organizacional de rodeios, considerando-se a reconhecida liderança neste esporte exercida pelos EUA. Tal posição é frequentemente relacionada ao número de eventos por ano produzidos no país, estimado em cerca de 1300 festivais de competição, sobretudo concentrados nas regiões sudeste e centro-sul. O número de arenas já ultrapassa 140, num mercado avaliado em US$ 2,2 bilhões por ano entre negócios diretos e indiretos. Somente no ano de 2000, o rodeio de Barretos atraiu em torno de 1,2 milhões de visitantes movimentando US$ 90 milhões, segundo cálculos do Sebrae-SP (SERRA, 2003, p. 43).


A prova mais famosa do Rodeio, certamente é a Montaria em Touros. O objetivo é simples: o peão deverá ficar 8 segundos montado em um touro.


Para participar, peões e donos de animais devem seguir uma série de normas e regras, relacionadas à saúde e bem-estar dos atletas (animais e seres humanos).


Montaria em touros (bull riding)


Nas provas de Montaria em touros (bull riding) o objetivo é permanecer 8 segundos sobre o touro. Com uma das mãos o peão (competidor) deve segurar, a chamada corda americana, feita de náilon ou fibra vegetal, amarrada ao touro.


O outro braço, chamado de braço de equilíbrio, não pode tocar em nenhuma parte do touro, do seu próprio corpo ou em qualquer equipamento.


O cronometro começa a contar o tempo assim que qualquer parte do touro saia do brete, após a abertura da porteira. Caso o peão não consiga ficar 8 segundo sobre o touro, a montaria é zerada.


A nota da montaria vai de 0 a 100 pontos, sendo 50% atribuída ao peão, e 50% ao touro.


Ao longo dos anos muitas falas preconceituosas (sem conhecimento) foram feitas. A principal delas refere-se ao mito de que se amarra os órgãos sexuais do touro para fazê-lo pular. Na verdade, o touro pula por instinto. É da própria índole do animal saltar. Segundo a PBR, de cada 100 touros, apenas 4% apresentam aptidão para o esporte.


Em cavalos, o Sedém deve ser de lã ou neoprene revestido, já o utilizado em touro é de algodão com uma consistência macia. As regras do rodeio de Barretos não permitem quaisquer objetos não descritos em lei. O Sedém nunca é apertado o suficiente para causar lesão ou dor. Colocado ao redor da área abdominal, ele é um "sinal" para o animal que "é hora de pular" e não toca os genitais. Inclusive, muitos dos animais com melhor performance são éguas.


Em 2017, o cowboy brasileiro, José Vitor Leme, de Ribas do Rio Pardo (MS), permaneceu os oito segundos sobre o touro Woopaa e registrou nota 98,75, a maior na história da PBR


Prova dos Três tambores


O objetivo dos Três Tambores é fazer o contorno em volta dos tambores que ficam na arena em forma triangular, à uma distância de 30 metros cada um. Ganha o competidor que fizer o percurso em menos tempo, pois o cronômetro é ligado quando o focinho do cavalo cruza a linha de partida.


O primeiro tambor deve ser contornado em giro de 360º da esquerda para a direita, e os dois últimos também devem ser contornados em um giro de 360º, porém, da direita para a esquerda. Entretanto, caso necessário, a regra do giro em 360° pode ser invertida.


Durante a prova, caso o competidor derrube um tambor, há acréscimo de 5 segundos; se houver derrubada de dois tambores, ou o competidor caia do cavalo, o participante é desclassificado da prova.


A regra mais importante, é que depois da prova o cavalo é avaliado, se forem observados ferimentos de chicotes e esporas, o cavaleiro ou amazona é desclassificado. Em Barretos, as esporas permitidas seguem as especificações da Lei Federal, cujas pontas são arredondadas. Os competidores que violam essa regra recebem multa, suspensão e/ou desqualificação. Para eliminar qualquer chance de violação da regra por algum competidor está desenvolvendo uma espora de borracha a pedido de Os Independentes, entidade organizadora da Festa do Peão de Barretos.


A raça de cavalo escolhida para a prova dos Três Tambores é o Quarto de Milha pois, além de ser um animal muito dócil, é muito veloz e de extrema inteligência para lida.



Cutiano (Montaria em cavalos)


O Rodeio Cutiano é uma prova essencialmente brasileira. Seu nome vem do tipo de arreio usado nas provas. A categoria foi desenvolvida a partir de disputas feitas entre os peões nas décadas de 1940 e 1950, para ver quem se saía melhor montando nos cavalos.


Nessa prova, o peão deve segurar a rédea com uma das mãos, deixando a outra livre e para o alto. A partir da saída do animal do brete, o peão precisa se manter em cima do cavalo por 8 segundos. As pernas do competidor devem ser mantidas próximas ao pescoço do animal, dando impressão que o peão está quase que “deitado” sobre o cavalo.


Assim como na Montaria em touros, a nota varia de 0 a 100 pontos.


Receber auxílio na montaria ou abaixar o braço de equilíbrio durante a execução são consideradas infrações que levam ao desconto de pontos.



 

Referências:


BELLON, Gabriel Delbem. O rodeio brasileiro e a legislação aplicável. Instituto Brasileiro de Direito Desportivo, 2020. Disponível em: https://ibdd.com.br/o-rodeio-brasileiro-e-a-legislacao-aplicavel/?v=19d3326f3137


CANDIDO, Antonio. Os parceiros do Rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. São Paulo: edusp; Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2017.


DE ALMEIDA SERRA, Rhodes Albernaz; TUBINO, Manoel José Gomes; DA SILVA NOVAES, Jefferson. O rodeio como uma manifestação esportiva de identidade cultural do interior de São Paulo. Fit Perf J, Rio de Janeiro, 2, 6, 342, nov/dez, 2003. DIsponível em: https://web.archive.org/web/20190101143529id_/http://fpjournal.org.br/painel/arquivos/1727-5_Rodeio_esportivo_Rev6_2003_Portugues.pdf


OS INDEPENDENTES. Verdades e mentiras sobre o Rodeio. Disponível em: https://www.independentes.com.br/festadopeao/fatos-rodeio#conteudo


RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 4. ed. São Paulo: Global Editora, 2022.


SERRA, Rhoddes. Rodeio. In.: DACOSTA, Lamartine. Atlas do esporte no Brasil: Atlas do Esporte, Educação Física e Atividades Físicas de Saúde e Lazer no Brasil. 2003, p. 43-44



LEIRA, Matheus Hernandes et al. A origem do rodeio no Brasil sua prática como esporte radical e o bem-estar dos animais de montaria. Pubvet, v. 11, n. 3, p. 207-216, 2017. Disponível em: https://web.archive.org/web/20180721115149id_/http://www.pubvet.com.br/uploads/363f5bead6f4ca093a044310f04e9b47.pdf


PBR BRAZIL. Manejo. Disponível em: https://pbrbrazil.com/manejo/

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