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Rascunhos por uma Educação Física histórica e crítica

Gabriel Garcia Borges Cardoso


INTRODUÇÃO


No ano de 2022, ao decidirmos criar o Almanaque da Cultura Corporal, tínhamos (e ainda temos) como objetivo que esse espaço virtual - antes apenas no Instagram - fosse, na realidade, uma extensão para divulgação dos nossos estudos, pesquisas e planejamentos.

O projeto se inicia ainda enquanto fruto de estudos e descobertas de um acadêmico de licenciatura em Educação Física (Universidade Estadual de Goiás), já na fase de construção do Trabalho de Conclusão de Curso - que, futuramente, seria o trabalho intitulado Pedagogia Histórico-Crítica, Educação Física e Educação Infantil: encontros e desencontros -, membro de grupos de pesquisas e bolsista do programa de Residência Pedagógica, e, atualmente, continua enquanto reflexões e estudos de um professor de Educação Física escolar, pós graduando em Educação Física escolar (Universidade Federal de Goiás) e em Mídias na Educação (Universidade do Estado do Rio Grande do Norte).

Algumas vezes quase como um diário de bordo, outras como caderno de planejamento, o Almanaque da Cultura Corporal segue sendo um espaço pessoal, e colaborativo, de sistematização e, ao mesmo tempo, de divulgação de conceitos e teorias que durante os dias, meses e anos, vamos nos aprofundando e experimentando nas práticas pedagógicas e nas formações continuadas.

Neste sentido, este é um texto que será desmembrado em uma série de publicações, que com a permissão da licença poética, poderá ser chamado de colcha de retalhos. Uma colcha feita na tentativa de se aprimorar na técnica da costura, buscando escolher os melhores pedaços de retalho, com a possibilidade de ir e vir, de ser um material inacabado, onde, de tempos em tempos, a partir de novas leituras e estudos, possamos voltar e construir, reconstruir e desconstruir aquilo que agora estamos colocando nesse documento.

Por ser um trabalho introdutório, mas, ao mesmo tempo, uma tentativa de aprofundamento teórico, buscaremos tecer as assimilações adquiridas ao longo dos estudos sobre os pressupostos teóricos, históricos e metodológicos da pedagogia histórico-crítica, com um olhar especial para a sua aproximação com a educação física escolar.

Ao propormos, enquanto professores, nos aproximar de uma metodologia crítica da educação - e da educação física -, precisamos ter a consciência que isso vai além de simplesmente citar autores, e coletivos de autores. Essa aproximação teórica precisa estar explícita na prática pedagógica do professor. Ou melhor, é preciso compreender que essa divisão entre teoria e prática não existe, pois, “sob enfoque lógico dialético, teoria e prática são polos opostos interiores um ao outro, a serem compreendidos na base do que seja oposição e contradição [...] isto é, a dimensão essencialmente prática de toda teoria e a dimensão essencialmente teórica de toda prática” (GALVÃO; LAVOURA; MARTINS, 2019, p. 3-4).

Esse enfoque lógico dialético, complexo de ser compreendido em um primeiro momento, estará presente em toda a fundamentação dessa teoria pedagógica – a pedagogia histórico-crítica -, uma vez que ela se fundamenta a partir do método de pesquisa – e concepção de mundo - denominado de materialismo histórico-dialético. Essa aproximação entre teoria pedagógica e método, nos faz aproximar de uma outra teoria, uma teoria da psicologia, necessária para pensarmos e refletirmos sobre o desenvolvimento psíquico do ser humano: a psicologia histórico-cultural.

Essa aproximação pode ser justificada da seguinte maneira:

Tendo o materialismo histórico-dialético como fundamento metodológico, tanto a psicologia histórico-cultural quanto a pedagogia histórico-crítica nos apresentam o homem como um ser social cujo desenvolvimento condiciona-se pela atividade que o vincula à natureza, um ser que a princípio não dispõe de propriedades que lhe assegurem, por si mesmas, a conquista daquilo que o caracteriza como ser humano (MARTINS, 2020, p. 14).

Em concordância a essa relação entre as teorias, Dermeval Saviani, ao discorrer, brevemente, sobre a relação pedagogia histórico-crítica e Currículos Escolares, apresenta que “[...] devemos tomar o aporte da psicologia histórico-cultural, que indica como referência para a identificação do conteúdo e forma do desenvolvimento do ensino a atividade-guia própria de cada período da vida dos indivíduos” (SAVIANI; DUARTE, 2021, p. 77).

Sendo assim, se a teoria pedagógica que possibilita a relação da prática educativa com os pressupostos teóricos e metodológicos da psicologia histórico-cultural, é a pedagogia histórico-crítica, entendemos que a abordagem metodológica da Educação Física que permita esse diálogo, de forma coerente, seja a metodologia crítico-superadora, uma vez que, assim como discutiremos ao longo deste trabalho, é a primeira tentativa de aproximação entre a Educação Física e a pedagogia histórico-crítica, de forma sistematizada e organizada em livro.

Logo, se nós, enquanto professores e pesquisadores, nos propomos a trabalhar aproximando da pedagogia histórico-crítica e da psicologia histórico-cultural, precisamos, consequentemente, nos aproximar do método em questão.

Por essa razão, para fim de melhor compreensão pedagógica, uma vez que nossa intenção é produzir um material que possa servir de “porta de entrada” para os estudos dessa teoria, dividiremos nossa série de publicações em quatro grandes tópicos:

Reforçamos que essa divisão é estritamente pedagógica, feita na intenção de facilitar a compreensão das principais características dessas teorias. Elas caminham lado a lado, fazendo-se complemento uma da outra. Isoladamente, essas teorias são, somente, um dos fundamentos da educação escolar.

A partir do momento que nos aproximamos de determinada metodologia e/ou abordagem, nos aproximamos de uma concepção de mundo, de ser humano, de escola, de sociedade, de educação e de professor. Diante disso, nos parece claro de que a pluralidade teórica, o “usar um pouquinho de cada teoria” não é aquilo que nós entendemos como adequado e benéfico para a busca por uma sociedade transformadora.

Assim, ao longo desta série inacabada, esperamos auxiliar os (futuros e atuais) professores de Educação Física a compreenderem as bases metodológicas da pedagogia histórico-crítica, da psicologia histórico-cultural e de uma educação física que tenha como objetivo o ensino dos elementos da cultura corporal.


 

REFERÊNCIAS


CARDOSO, Gabriel Garcia Borges. Pedagogia Histórico-Crítica, Educação Física e Educação Infantil: encontros e desencontros. 2022. 93 p. Monografia (Licenciatura em Educação Física) – Universidade Estadual de Goiás, Goiânia, GO, 2022. Disponível em: https://www.gnuteca.ueg.br/html/file.php?folder=material&file=1655734433_tcc_gabriel.pdf


GALVÃO, Ana Carolina; LAVOURA, Tiago Nicola; MARTINS, Lígia Márcia. Fundamentos da didática histórico-crítica. 1. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2019.


MARTINS, Lígia Márcia. Psicologia histórico-cultural, pedagogia histórico-crítica e desenvolvimento humano. In.: MARTINS, Lígia Márcia; ABRANTES, Angelo Antonio; FACCI, Marilda Gonçalves Dias (orgs.). Periodização histórico-cultural do desenvolvimento psíquico: do nascimento à velhice. 2.ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2020.


SAVIANI, Dermeval; DUARTE, Newton. Conhecimento escolar e luta de classes: a pedagogia histórico-crítica contra a barbárie. Campinas, SP: Autores Associados, 2021.


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