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Peteca (Esporte)

Diferente da prática recreativa da Peteca, geralmente construída pelos próprios praticantes do jogo, a Peteca, a partir da década de 1970, sofreu o processo de esportivização.


No volume 47 da Revista de Educação Física, publicado no ano de 1978, Armando Alkimin Dias publicou o texto Peteca - Esporte e Recreação, em que apresenta que na cidade de Belo Horizonte (MG), nas praças de esporte a prática do jogo de peteca era bastante comum e que, devido ao alto número de praticantes, a peteca passou a ser transformada, adquirindo algumas regras.


Dias (1978) diz:


O jogo de peteca, a princípio, tratava-se de mera recreação entre os frequëntadores das praias cariocas e dos clubes desportivos. Em Copacabana, restam ainda grandes aficcionados, muitos dos quais veteranos cobras das nossas seleções de volibol, jogando peteca, adotando uma regulamentação em que são utilizadas dias redes no campo. No antigo Iate Golf Club de Belo Horizonte essa recreação foi praticada por alguns dos mais renomados remadores da época: Eneas de Assis Fonseca, Hélio Salomão (falecido), Cícero Vidal, Notel Sampaio, Nilton Amantea, Manoel França Campos (falecido), Merval Rebelo, Danilo Viana e outros. A recreação foi-se difundindo também como esporte, chegando ao Munas Tênis Clube, ali se firmando e se espraiando para outros clubes e casas da cidade. Nos último anos, o sangue novo da juventude foi também requisitado para a prática e competição do até então mero brinquedo recreativo. O jogo de peteca passou a ser praticado facilmente por pessoas de ambos os sexos, jovens ou idosas. A ausência de violência, de contacto direto com os adversários, a oportunidade de participação de todos os praticantes, e as refra fáceis também são fatores que o tornaram atraente, proporcionando espírito de solidariedade, disciplina, coletividade e conduta cavalheiresca (DIAS, 1978, p. 18).

Segundo Santos (2020), o início do processo de esportivização da peteca acontece com a prática do jogo pelos nadadores brasileiros durante a Olimpíada de Antuérpia (Bélgica), em 1920, como um momento de lazer entre as competições.

O fato despertou a curiosidade dos ocupantes estrangeiros da “Villa dos Athletas”, que perguntaram sobre as regras, ainda inexistentes à época. O Dr. José Maria Castello Branco, chefe da delegação brasileira, ao regressar ao Brasil, elaborou as primeiras regras, cumprindo o compromisso de enviá-las aos colegas europeus. Vale lembrar que essa edição dos Jogos Olímpicos teve duração aproximada de três meses. Inicialmente, o campo de jogo associava os campos de tênis e de voleibol, resultando num extenso espaço de 43m x 10m dividido em dois campos. Não havia uma rede, mas duas redes de um metro de altura, distantes três metros uma da outra para separar os campos. A peteca era jogada por cinco pessoas de cada lado. As complicadas regras não favoreceram a sobrevivência do esporte por muito tempo e logo sofreu reformulações (SANTOS, 2020).

Essas primeiras reformulações, como apresenta Santos (2020), foram feitas na década de 1930, tendo a redução do campo para 18 metros de comprimento e 9 metros de largura, apenas uma rede e até seis participantes por equipe (muito similar ao formato do Voleibol). Nesse período o jogo adotou o nome de Peteca de Salão. Havia também o Petecão:


Tendo o Sport Club Corinthians Paulista como precursor da modalidade, jogava-se com duas redes de 3,43m de altura, separadas por um metro e quatro jogadores de cada lado. Como o voleibol, eram possíveis os três toques por equipe e não havia obrigatoriedade de rodízio. Levada do Brasil para a Europa em 1936, por um professor de educação física alemão recebeu o nome de Indiaca, incorporando outras modificações de regra a partir da sua introdução na Alemanha. Este esporte é praticado na Europa e em outras partes do mundo com regras bem próximas ao Voleibol. A peteca feita de palha já não suportava tantas rebatidas e impactos enérgicos, se desfazendo com facilidade. Assim, a base circular da peteca brasileira passou a ser composta por um enchimento macio e pelica costurada, contando com penas naturais em sua confecção (SANTOS, 2020).

Na década de 1940, a Peteca recebe novas alterações que deram forma ao esporte que conhecemos hoje. Assim como apresenta Dias (1978), devido a difusão nos principais clubes de Belo Horizonte, a Federação dos Clubes do Estado de Minas Gerais (FECEMG), na década de 1970, ficou responsável por elaborar uma regulamentação do jogo de peteca, contendo modelos, dimensões de campos e fotos, e enviar a todos os clubes de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Brasília e as Unidades Militares de Belo Horizonte.


Nesse momento, a quadra que antes tinha dimensões maiores, passa a medir 15 metros de comprimento e 7,5 metros de largura. Andrade e Procópio (1980) apresentam que, geralmente, as quadras são marcadas para dupla, com as mesmas dimensões, porém divididas ao meio, no sentido longitudinal.


Atualmente, segundo as Regras Oficiais de Peteca (2020), disponibilizadas pela Confederação Brasileira de Peteca (CBP), atualmente a quadra mede, para jogos de duplas, 15 metros por 7,5 metros, porém, para jogos individuais, a quadra mede 15 metros por 5,5 metros. Para os jogos das categorias Pré-Mirim Feminina e Masculina a quadra tem a dimensão de 11 metros por 5,5 metros.


Quadra de Peteca, segundo as Regras Oficiais de Peteca

A rede é muito parecida com a rede usado nos jogos de voleibol, entretanto, por ser jogado com uma peteca, a malha (quadrados da rede) deve ser menor (4 centímetros por 4 centímetros), para evitar que a peteca passe por entre a rede para o lado adversário. Assim como nos jogos de voleibol, a rede deverá estar a 2,43 metros de altura do chão, para jogos masculinos, e 2,24 metros de altura para jogos femininos, medindo do bordo superior da rede até a quadra.


Entre o ponto central da rede e os seus pontos laterais, que coincidem com a projeção vertical nas linhas laterais da quadra, é permitida uma variação máxima de dois centímetros na sua altura.


A peteca usada nas competições esportivas não é a mesma do jogo recreativo, constrída de diferentes materiais, tamanhos e peso. De acordo com as Regras Oficiais de Peteca (2020), a Peteca deverá seguir as seguintes especificações:


  • A base da peteca deve ter entre 5 centímetros e 5,2 centímetros de diâmetro e sua altura total deve ser de 20 centímetros, incluindo as penas.

  • O peso da peteca deve ser de 40 a 42 gramas, aproximadamente.

  • As penas devem ser brancas, em número de quatro, montadas paralelamente duas a duas, de modo que o quadrado formado por elas caiba num círculo ideal com diâmetro de aproximadamente 5 centímetros.

  • As penas podem ter outra coloração nas situações em que a cor branca prejudicar a visibilidade dos jogadores ou de meios de gravação em vídeo.

  • A base deve ser construída com discos de borracha, montados em camadas sobrepostas.


Andrade e Procópio, no ano de 1980 publicam o livro O jogo da peteca: mantenha sua forma física divertindo-se, que, dentre questões fisiológicas sobre o benefício da Peteca para aptidão física e saúde, apresentam um aprofundado material referente aos gestos técnicos e táticas do jogo de Peteca.


Os autores apresentam que a forma mais adequada para se bater na Peteca é com a área compreendida entre o meio da palma e a linha formada pelas articulações mais grossas dos dedos (Ver imagem abaixo).


(ANDRADE; PROCÓPIO, 1980, p. 78)

Dentro dessa área, caso a Peteca seja batida com a parte mais próxima da articulação dos dedos, o golpe será mais forte e ela irá mais longe, como nos golpes cujo objetivo é enviar a peteca para o fundo da quadra adversária; caso a peteca seja golpeada com a região mais central da palma da mão, o golpe será amortecido e a peteca não irá tão longe, sendo um recurso para enviar a peteca mais próxima à rede.


É errado bater a peteca com outra região da mão? Não, não é errado! Entretanto, bater com os dedos, por exemplo, ou muito próximo do punho, dificultará obter precisão no toque.


Segundo os autores, existem três tipos de toques na peteca: o toque básico, o toque por baixo e o toque saltando.


O toque básico é o toque "por cima", parado. Ele é utilizado na maioria das batidas durante uma partida:


(ANDRADE; PROCÓPIO, 1980, p. 81-82)

O toque por baixo é usado quando a peteca vem baixa ou quando é "pingada" muito próxima da rede, sendo impossível o jogador batê-la por cima:


(ANDRADE; PROCÓPIO, 1980, p. 84-85)

O toque saltando é uma batida executada com o jogador saltando. Esta batida dificulta ao adversário pressentir onde a peteca será enviada, além de dar uma maior variação de ataques:



(ANDRADE; PROCÓPIO, 1980, p. 87-90)


A grande diferença da Peteca para os outros esportes de rede é a existência de um tempo máximo para o rally (período em que as equipes estão tentando marcar um ponto): a equipe que está realizando o saque possui o tempo estipulado em vinte segundos para a conquista do ponto em disputa. Caso a equipe sacadora não consiga marcar o ponto nesses 20 segundos, será contado

ponto para a equipe adversária. A equipe vencedora do ponto continua sacando até que essa situação mude ou que o jogo termine. A contagem do tempo oficial da posse da peteca será sempre reiniciada depois de cada ponto conquistado ou do término desse tempo, situação em que o direito do saque passa para a equipe adversária.


A partida é definida em melhor de três sets, consagrando-se vencedora a equipe que ganhar dois sets. Assim como no voleibol, os dois primeiros sets se resolvem quando uma das equipes atingir a marca de 25 (vinte e cinco) pontos, com uma diferença obrigatória de dois pontos. Em caso de empate entre os dois primeiros sets, haverá a disputa do terceiro set, de 15 (quinze) pontos, sendo sempre necessários dois pontos de diferença para essa definição.


No decorrer do jogo, em qualquer circunstância, a peteca só pode ser batida com uma das mãos, uma única vez e por um único atleta. Se numa jogada, inclusive no saque, a peteca tocar a rede na sua parte superior e, sem cair no chão, nela ficar dependurada do lado da equipe que fez o toque, o saque é revertido para a outra equipe, com a contagem de ponto, se for o caso.


Golpe, na peteca, é o nome dado a trajetória e a velocidade com que o jogador envia a peteca ao adversário depois de batê-la. O mesmo tipo de toque pode produzir diferentes tipos de golpes. Por exemplo, através do toque básico o jogador, com os mesmos movimentos, apenas variando a direção e a força com que bate na peteca, poderá enviá-la rente à rede, percorrendo uma trajetória curta ou no fundo do campo adversário, percorrendo uma trajetória alta e longa (ANDRADE; PROCÓPIO, 1980, p. 104).


Os principais tipos de golpes são:


  • Meia altura:


(ANDRADE; PROCÓPIO, 1980, p. 104)

  • Profundo


(ANDRADE; PROCÓPIO, 1980, p. 105)
  • Pingada


(ANDRADE; PROCÓPIO, 1980, p. 107)


  • Rasante


(ANDRADE; PROCÓPIO, 1980, p. 110)
  • Cortada


(ANDRADE; PROCÓPIO, 1980, p. 111)


 

Referências:


ANDRADE, Eduardo Borges; PROCÓPIO, Mário Marcos. O jogo da peteca: mantenha sua forma física divertindo-se. Belo Horizonte: Editora Comunicação, 1980.


CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE PETECA - CBP. Regras Oficiais de Peteca 2020. Disponível em: https://cbpeteca.org.br/regras-oficiais/


DIAS, Armando Alkimin. Peteca - esporte e recreação. Revista De Educação Física / Journal of Physical Education, 47(1), 1978. Disponível em: https://revistadeeducacaofisica.emnuvens.com.br/revista/article/view/2483


SANTOS, Renato Machado dos. História da Peteca. In.: CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE PETECA - CBP. O Esporte: História da Peteca. CBP, 2020. Disponível em: https://cbpeteca.org.br/historia-da-peteca/

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