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Os Jogos Olímpicos: da Antiguidade a 2024

Atualizado: 11 de ago.

Gabriel Garcia Borges Cardoso


De quatro em quatro anos, as atenções do mundo - principalmente daqueles aficionados por esportes - se voltam para atletas de todo o planeta, que buscam vencer os limites do próprio corpo.


O maior evento esportivo do planeta possui o poder de reunir vários países e pessoas e, a cada ano, o evento fica maior. Prova disso é que desde a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em 1896, havia 241 atletas participantes, de 14 países, enquanto na última edição, realizada em Tóquio 2020 (mas que aconteceu em 2021 devido a pandemia de COVID-19), foram 11420 atletas participantes, representando 206 Comitês Olímpicos Nacionais.


Entre os dias 25 de julho (embora a abertura oficial acontecerá no dia 26 de julho, no dia 25 já acontecerá alguns jogos oficiais de Futebol, Handebol, Rugby Sevens, e Tiro com Arco) e 11 de agosto de 2024, acontecerá a 30ª edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna (alguns pesquisadores consideram essa como sendo a 33ª edição, porém, nos anos 1916, 1940 e 1944 os jogos foram cancelados devido a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, respectivamente), em Paris, na França.


Mas quais as origens desse evento? É sobre isso que o Almanaque da Cultura Corporal irá apresentar neste texto. Para isso, o artigo está dividido em cinco grandes partes, conforme descrito no índice abaixo para facilitar a navegação e leitura:



Esperamos que esse material possa, de alguma forma, auxiliá-los.


OS JOGOS OLÍMPICOS NA ANTIGUIDADE


Os Jogos da Antiguidade têm seu início no ano de 776 a.C., em Élis, quando, segundo a lenda, o rei Iphitos ouviu do Oráculo de Delfos que salvaria a Grécia de pragas e guerras civis com a retomada das Olímpiadas. Mas... se essa é a primeira edição, como seria possível realizar a retomada das Olímpiadas?


Bem, na verdade os Jogos Olímpicos não surge repentinamente no ano de 776 a.C., eles surgem, na verdade, como uma adaptação de acontecimentos ligados aos costumes gregos em que eram realizados eventos competitivos para comemorar grandes feitos, acontecimentos e devoção aos deuses, por exemplo:

  • Jogos Píticos:

    • Celebrados no santuário do deus Apolo, em Delfos, como forma de homenagem ao Deus da música. Além de jogos, havia concursos musicas e teatrais.

  • Jogos Ístmicos:

    • Realizados no santuário de Poseidon, em Corinto, em honra ao Deus do mar. Havia provas aquáticas, como o remo e regatas.

  • Jogos Nemeus:

    • Dedicado a Zeus, em Neméia.


Assim como nos mostra Freitas e Barreto (2008), historiadores dividem os Jogos antigos em três grandes fases:

  1. Os primeiros jogos, cujos registros históricos indicam terem sido homenagens funerárias que foram interrompidos pela dominação dórica;

  2. A volta do Jogos, quando o rei Iphitos de Élis escuta do Oráculo que para acabar com as guerras que dividiam a Grécia, era necessário retornar a prática dos Jogos de Olímpia.

  3. No ano de 776 a.C., os Jogos já eram tão importantes que se tornaram a base do calendário. Essa última fase é a fase que conhecemos como Jogos Olímpicos da Grécia Antiga.


Essa edição de 776 a.C. teve, na realidade, apenas uma corrida, vencida por Koroibos. Acredita-se que durante as 13 primeiras edições, a corrida era a única prova dos Jogos.


Essas corridas eram disputadas em 192 metros, comprimento do Stadion (local em que se realizava a prova). Posteriormente surgiu a prova Diaulo (ou duplo stadion), com 384 metros (o dobro da prova de stadion), e, depois, a categoria Dólico, a prova de longa distância, que podia variar entre 7 e 24 stadions, e servia como abertura dos Jogos.


Posteriormente, os Jogos Olímpicos - que aconteciam em Olímpia - eram disputados de quatro em quatro anos, no verão, depois das colheitas, por cinco dias seguidos. Os atletas que corriam, lançavam e lutavam, ofereciam a Zeus sua velocidade, força e coragem.


Segundo Godoy (1996) as regras para participar dos Jogos eram:


Ser cidadão livre (não podia ser escravo ou estrangeiro); Não ter sido punido pela Justiça, nem ter moral duvidosa; Dentro do prazo legal, inscrever-se para o estágio no ginásio de Élis. Cumprir o período de concentração, passar pelas provas classificatórias e prestar o juramento; Todo retardatário estará fora da competição; As mulheres casadas são proibidas de assistirem aos Jogos ou subirem ao Altis sob pena de serem atiradas do rochedo Typeu; Durante os exercícios e desenvolvimento das competições no estádio, os treinadores deverão permanecer num recinto a eles destinados, próximo ao local da prova; É proibido matar o adversário ou provocar sua morte voluntária ou involuntariamente; É proibido perseguir o adversário fora dos limites determinados, empurrar ou utilizar contra ele um comportamento desleal; É proibido amedrontar; Toda corrupção de árbitro ou de participante será punida com chicote; Todo concorrente contra quem não se apresentar o adversário será considerado o vencedor; É proibido ao participante rebelar-se, publicamente, contra as decisões dos juízes; Todo concorrente descontente com uma decisão poderá recorrer ao Senado Olímpico contra os árbitros. Estes, ou serão punidos, ou sua decisão será anulada se ela for considerada errada; Será considerado fora de concurso qualquer um dos membros do colegiado de juízes.

Profundamente enraizados na cultura e no cotidiano da Grécia Antiga, os Jogos Olímpicos integrava o cotidiano dos gregos. No entanto, a invasão romana em 149 a.C. marcou o início de um choque cultural que colocaria em xeque a tradição olímpica.


Para os gregos, competir nos Jogos Olímpicos era a busca pela glória individual, a personificação do ideal do guerreiro. A vitória representava a superação dos limites humanos, a conquista da honra e a imortalização na memória coletiva. Essa visão contrastava profundamente com a mentalidade romana, que priorizava o espetáculo e o entretenimento do público. Para os romanos, os Jogos eram uma forma de celebrar o poder do Império, ostentar sua grandiosidade e subjugar os povos conquistados.


Essa divergência de valores minou a essência das Olimpíadas, transformando-as em eventos mais focados na pompa e no entretenimento do que na busca pela excelência atlética. A comercialização dos Jogos, a introdução de gladiadores e outros espetáculos sangrentos, e a perda do significado religioso original contribuíram para o declínio da tradição olímpica.


Por volta do ano 393 d.C., Teodósio I, imperador romano, após se converter para o cristianismo, aconselhado por Ambrósio, bispo de Milão, que defendia a erradicação dos costumes pagãos, Teodósio decretou o fim dos Jogos Olímpicos, assim como de qualquer outra exibição esportiva ligada à religião grega.


Embora fossem proibidas quaisquer manifestações e exibições esportivas, os romanos herdaram dos gregos alguns jogos de bola que, com o tempo, foram aperfeiçoados através do trabalho com couro. Estes jogos começaram a fazer parte dos treinos militares e eram praticados em campos abertos ou quadras.


Na Idade Média, as provas esportivas, se mantiveram entre os nobres, com armas, como na esgrima, e cavalos, nas disputas de equitação. O povo praticava jogos de bola, que deram origem às primeiras "raquetes" — uma extensão dos braços e, às vezes, das palmas das mãos. Ao contrário da grandiosidade das Olimpíadas, a "Idade das Trevas" não presenciou grandes eventos esportivos. As competições, quando existiam, eram pequenas e se limitavam a disputas entre vilas.


O ESPORTE E A EUROPA DO SÉCULO XVIII


Mais de 1500 anos depois da proibição dos Jogos Olímpicos por Teodósio I, no final do século XIX, mais precisamente na década de 1890, a ideia de "reviver" os Jogos Olímpicos torna-se pauta de discussões entre os estudiosos e aristocratas europeus. Mas qual o motivo dessa pauta entrar em discussão nesse momento da história? Será obra do acaso?


Alguns historiadores compreendem que o século XVIII foi um marco importante para a institucionalização do Esporte Moderno. Esse período é marcado por grandes mudanças sociais, como a Revolução Industrial e o processo, consequente, de êxodo rural na Europa. A concentração populacional nas cidades impulsionada pela industrialização trouxe consigo diversas mudanças, incluindo novas formas de lazer para as camadas trabalhadoras.


Tais mudanças sociais, econômicas, educacionais causadas pela Revolução Industrial, mudaram, dialeticamente, as relações entre as pessoas e os jogos e passatempos populares, ocasionando, então, uma ruptura nas práticas até então existentes. A partir dessa tese, as atividades esportivas que já aconteciam desde os tempos antigos são vistas como expressões culturais. Embora, de certa forma, apresentem semelhanças técnicas com o esporte moderno, elas possuem interpretações e significados muito distintos. Portanto, essas práticas são consideradas como pré-esportivas.


Os pesquisadores que defendem a tese da ruptura apresentam como justificativa, por exemplo, a “constituição de regras universais que passam a regular a atividade esportiva, assim como a existência de todo um corpo de legisladores encarregados da criação e efetivação de regulamentos que permitem as trocas esportivas para além do âmbito local” (Stigger, p. 18).


Stigger (p. 30), após análise dos textos de Norbert Elias e Eric Dunning, diz que o Esporte Moderno pode ser entendido como sendo


[...] atividades organizadas e padronizadas que são desenvolvidas de acordo com um conjunto de regras rigorosas, explícitas e diferenciadas, que se vinculam tanto a ideais de justiça e igualdade de oportunidades quanto ao controle da violência; são realizadas dentro de um padrão específico de dinâmica de grupo que facilita e restringindo a tensão, visa a encontrar um nível de tensão agradável.

Outra grande instituição que "surge" nesse período e que vai influenciar a relação sociedade/esporte, foram as public schools: escolas destinadas às elites inglesas que tiveram grande importância para o processo de transformação de passatempos e jogos populares em esporte.


Essas escolas, ligadas às elites inglesas, ao invés de manter a atenção a um tipo de educação formal e intelectualizada, procurava-se o desenvolvimento de virtudes como: coragem, capacidade de resistir ao sofrimento, altruísmo, capacidade de trabalho em equipe, e lealdade. Nessas instituições, em especial na escola Rugby, os jogos, especialmente o futebol, passaram a ser tolerados e tiveram sua prática reduzida e disciplinada, com o objetivo de ser instrumentos de controle sobre os estudantes. Segundo Stigger (p. 36):


Foi, portanto, na instituição escolar que os antigos jogos populares foram separados das ocasiões sociais ordinárias a que estavam associados e desprovidos das funções sociais específicas ligadas a estas ocasiões. A isso Bourdieu denomina de processo de “autonomização do campo das práticas esportivas” (1983b, p. 140), o que significa um processo em que essas atividades deixam de estar relacionadas e dependentes de outras, como determinados rituais, festas agrárias e religiosas, passando a ter vida própria.

No século XIX, a influência do Império Britânico foi fundamental para a globalização dos esportes. O futebol, por exemplo, inicialmente praticado pela elite no século XIX, em universidades como Oxford e Cambridge, teve suas regras padronizadas em 1863 pela FA (Football Association). A partir de então, a tradição de assistir aos jogos nas tardes de domingo se consolidou, e, nas últimas décadas do século XIX, o esporte também se popularizou entre a classe trabalhadora.


Durante esse período de mudanças e de valorização do esporte, surge alguns personagens importantes que defendiam e buscaram a retomada dos Jogos Olímpicos gregos. Dentre esses personagens estão Panagiotis Soutsos, um poeta grego que em 1833 idealizou a volta dos jogos, tendo uma rotatividade entre as cidades sede; e Evangelis Zappas, um albanês que ficou milionário na Romênia, tornando-se o homem mais rico do Leste Europeu da época, e que em 1856, propôs ao rei Otto I, da Grécia, financiar a volta dos Jogos Olímpicos.

Inicialmente, sua proposta foi rejeitada pelo governo grego, que considerava a indústria e a agricultura como prioridades mais importantes. Alguns políticos temiam que a realização de Jogos Olímpicos, inspirados nos da antiguidade, fosse vista por outras nações como um sinal de retrocesso da Grécia.


Com a ajuda de Soutsos e seu jornal, Zappas conquistou o apoio do público para sua ideia, realizando, então, jogos que combinassem competições esportivas com exposições de indústria e agricultura. Em 1859, restritos a competidores da Grécia e do Império Otomano, os jogos tiveram provas de corrida, nas ruas, e de salto, lançamento do disco e do dardo e até subida em poste, na praça conhecida hoje como Koumoundourou.


Como não havia atletas, trabalhadores de todas as áreas se inscreveram para brigar pelos prêmios em dinheiro. Há referências de um policial que abandonou o posto de serviço para disputar as provas e até de um mendigo cego que participou de uma corrida (Serviço Social da Indústria, 2012, p. 31).

Os britânicos estavam atentos aos jogos gregos. Tão atentos e interessados que na primeira edição dos Jogos de Zappas (1859), a associação The Committee of the Wenlock Olympian Class, criada pelo médico inglês William Penny Brookes, enviou dez libras esterlinas como recompensa ao melhor corredor da prova mais longa desses jogos. O médico inglês ficou tão interessado no evento que, além da premiação em dinheiro, o fez pensar na fusão entre os jogos gregos e as competições inglesas.


Brookes incentivava tanto a prática esportiva em sua cidade, Wenlock, que fundou a Fundação Olímpica de Wenlock e, para motivar a prática esportiva entre trabalhadores, crianças e idosos, organizou, em 1850, os primeiros Jogos Olímpicos da cidade: os Wenlock Olympic Games.

De suas provas de atletismo e natação, participavam trabalhadores - e, o que era raro na época, algumas mulheres. Havia curiosidades, como as corridas com pés amarrados para crianças e as corridas de idosas na disputa "por um punhado de chá". Em outras modalidades, pequenos prêmios em dinheiro saíam do bolso de Brookes. Os Jogos de Wenlock eram um sucesso. O médico teve, então, a ideia de unir os jogos que movimentavam sua cidade com os Jogos de Atenas, e organizar um evento para todo o Reino Unido. E conseguiu: em 1866, fez a primeira Olimpíada fora da Grécia, no Crystal Palace de Londres. Um ano antes, Brookes tinha participado também, em Liverpool, da fundação da National Olympic Association, com um grupo empenhado na disseminação da educação fisica pelas escolas (Serviço Social da Indústria, 2012, p. 33).

Dentre esses defensores na disseminação da educação física e do esporte nas escolas, estava um aristocrata francês, historiador e educador, chamado Pierre de Frédy (conhecido como Barão de Coubertin), que, em 1890, foi convidado a assistir aos Jogos de Wenlock.


Surge, assim, as primeiras fagulhas do que viriam a ser os Jogos Olímpicos da Era Moderna.


OS JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA


Historicamente, Barão de Coubertin é o responsável por idealizar os Jogos Olímpicos da Era Moderna embora, assim como vimos anteriormente, outros personagens importantes tiveram grande participação nesse processo. Mas, então, quem foi esse "tal" de Barão, qual sua importância, e o que foi idealizado como Jogos Olímpicos?


QUEM FOI BARÃO DE COUBERTIN?

Assim como apresentamos no tópico anterior, o projeto de reviver os Jogos Olímpicos foi fortemente influenciado por William Penny Brookes e Evangelis Zappas, pioneiros na organização de competições similares na Inglaterra e na Grécia, respectivamente, entre 1859 e 1875.


Entretanto, a maioria das pessoas atribuem ao Barão de Coubertin a responsabilidade (embora não estivesse sozinho) por idealizar os Jogos Olímpicos da Era Moderna.


Nascido em Paris em 1º de janeiro de 1863, Pierre de Frédy - nome de batismo - herdou o título de Barão de Coubertin por parte de um antepassado italiano agraciado pelo Rei Luís XI. Beneficiado pela herança familiar de hotéis, Coubertin pôde dedicar-se aos estudos, sem preocupação com o trabalho, aprofundando-se em obras como a de Thomas Arnold, precursor do esporte moderno, e nas descobertas de J.J. Winckelmann das ruínas do estádio olímpico em Olímpia.


Em 1892, na renomada Universidade de Sorbonne, Coubertin apresentou, durante um encontro da União Francesa das Sociedades de Esportes Atléticos, um estudo sobre os exercícios físicos na modernidade e o plano de reviver os Jogos Olímpicos. No entanto, o apoio à sua proposta só viria dois anos depois, em uma reunião com personalidades influentes na mesma instituição, evento conhecido como Congresso Olímpico.


Neste Congresso, que ocorreu em 23 de junho de 1894, Barão de Coubertin reivindicou a autoria da reconstrução dos Jogos Olímpicos e ficou decidido que a primeira edição dos Jogos Modernos seria realizado em Atenas, dois anos depois, em 1896. Além disso, ficou estipulado que o escritor grego Dimítrios Vikelas seria o primeiro presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI).


Além disso, Barão de Coubertin foi o responsável por apresentar o Olimpismo, lançar o Movimento Olímpico e escrever a Carta Olímpica. Mas, afinal...


O QUE É "OLIMPISMO"?

Segundo a própria Carta Olímpica (Comitê Olímpico Internacional, 2011), o Olimpismo é:


[...] uma filosofia de vida que exalta e combina de forma equilibrada as qualidades do corpo, da vontade e da mente. Aliando o desporto à cultura e educação, o Olimpismo procura ser criador de um estilo de vida fundado no prazer do esforço, no valor educativo do bom exemplo, na responsabilidade social e no respeito pelos princípios éticos fundamentais universais. O objetivo do Olimpismo é o de colocar o desporto ao serviço do desenvolvimento harmonioso da pessoa humana em vista de promover uma sociedade pacífica preocupada com a preservação da dignidade humana (p. 25).

Em outras palavras, o Olimpismo é uma filosofia que visa o desenvolvimento integral do ser humano, através da combinação de corpo, mente e espírito, através de princípios fundamentais, como:

  • Excelência: Buscar o aperfeiçoamento constante em todas as áreas da vida, indo além dos limites pessoais.

  • Amizade: Cultivar relações de respeito, colaboração e fraternidade entre pessoas de diferentes culturas e origens.

  • Respeito: Valorizar os princípios éticos, a diversidade e a dignidade humana, reconhecendo a importância do fair play e da competição saudável.


O QUE É O "MOVIMENTO OLÍMPICO"?

De forma geral, o Movimento Olímpico, composto não apenas pelo Comitê Olímpico Internacional, mas pelas federações esportivas internacionais, os Comitês Olímpicos Nacionais, o comitê organizador de cada edição e, é claro, os atletas e integrantes das delegações, possui como objetivo manter vivos os ideais do Barão de Coubertin, expressos pelo Olimpismo.


A lista de tarefas do Movimento abrange oito áreas de atuação:

  • Escolha da cidade-sede

  • Organização dos Jogos Olímpicos

  • Promoção da mulher no esporte

  • Proteção dos atletas

  • Desenvolvimento pelo esporte

  • Promoção do desenvolvimento sustentável

  • Respeito pela trégua olímpica

  • Promoção da cultura e da educação olímpicas


O Movimento Olímpico é a ação, concertada, organizada, universal e permanente, de todos os indivíduos e entidades que são inspirados pelos valores do Olimpismo, sob a autoridade suprema do COI. Estende-se aos cinco continentes. Atinge o seu auge com a reunião de atletas de todo o mundo no grande festival desportivo que são os Jogos Olímpicos (p. 25).

QUAL É O "LEMA OLÍMPICO"?

Citius, altius, fortius”.


As três palavras acima são o Lema Olímpico. Escrito pelo reverendo Henri Didon - amigo de Barão de Coubertin, e aprovado no Congresso Olímpico de 1897, em Havre, na França, é uma expressão latina comumente traduzida para “mais rápido, mais alto, mais forte”. Mais do que um simples incentivo à busca pelo melhor desempenho, essa mensagem transcende as arenas esportivas e se configura como um convite do Movimento Olímpico para que cada indivíduo busque incessantemente o seu aprimoramento.


A partir dos Jogos de Tóquio 2020, o lema ganhou um novo capítulo ao incorporar a palavra "Communiter", que significa "juntos". Essa adição não foi mera formalidade, mas sim um reforço da importância da união e da solidariedade como pilares fundamentais do esporte.


A BANDEIRA OLÍMPICA

"O seu símbolo é constituído por cinco anéis entrelaçados" (Comitê Olímpico Internacional, 2011, p. 25). Na Carta Olímpica já estava descrita o símbolo máximo dos Jogos Olímpicos:


O símbolo Olímpico é composto por cinco anéis entrelaçados de iguais dimensões (os anéis Olímpicos), usados isoladamente, numa ou em cinco diferentes cores. Quando utilizados na versão de cinco cores, as cores devem ser, da esquerda para a direita, o azul, o amarelo, o preto, o verde e o vermelho. Os anéis são entrelaçados da esquerda para a direita; os anéis azul, preto e vermelho estão situados no topo, o amarelo e o verde na base [...] (p. 35)


O símbolo Olímpico exprime a atividade do Movimento Olímpico e representa a união dos cinco continentes e o encontro de atletas do mundo inteiro nos Jogos Olímpicos.



O texto acima, escrito por Barão de Coubertin e publicado no ano de 1913, na revista Olympique, apresenta o significado das cores dos anéis olímpicos:


as seis cores assim combinadas reproduzem as de todas as nações sem exceção. O azul e amarelo da Suécia, o azul e branco da Grécia, os tricolores francês, inglês, americano, alemão, belga, italiano, húngaro, o amarelo e vermelho da Espanha coexistem com as inovações brasileiras ou australianas, com o velho Japão e a jovem China. Eis realmente um emblema internacional (Coubertin, 1913, p. 119).


CHAMA, PIRA E TOCHA OLÍMPICAS

Na Grécia antiga, o fogo representava a centelha que nos separa dos animais, um presente divino concedido por Prometeu. Essa chama sagrada iluminou os Jogos Olímpicos da Antiguidade, ardendo nos templos de Zeus e Hera como símbolo de esperança e união.


Em 1928, nos Jogos de Amsterdã, a chama olímpica renasceu na Era Moderna. Um funcionário da companhia de energia local teve a honra de acendê-la no Estádio Olímpico, iniciando uma tradição que se perpetua até hoje. Desde então, a chama se tornou um símbolo unificador, presente em todas as edições dos Jogos.


Em Berlim 1936, a cerimônia se tornou ainda mais completa com a introdução do revezamento da tocha. Idealizado por Carl Diem, o ritual consiste em acender a chama em Olímpia, berço dos Jogos Antigos, e conduzi-la até a cidade-sede por meio de tochas. Cada corredor se torna um elo nessa jornada, perpetuando o legado olímpico e disseminando seus valores.




HINO OLÍMPICO

Freitas e Barreto (2024) apresentam que a vontade inicial do Barão de Coubertin era que o Hino Olímpico fosse o quarto movimento da Nona Sinfonia de Beethoven (com letra de Schiller). Entretanto, o Hino Oficial dos Jogos Olímpicos foi composto pelos gregos Spyridon Samaras (música) e Kostís Palamás (letra), já para a primeira edição dos Jogos, em Atenas 1896. Em 1958, durante a 55ª sessão do Comitê Olímpico Internacional (COI) em Tóquio, a melodia foi oficialmente aprovada, ganhando status oficial. Sua estreia nesse novo patamar aconteceu na inauguração da Vila Olímpica de Roma 1960. Desde então, o Hino Olímpico se tornou um elemento obrigatório em todas as edições dos Jogos.



Letra original do hino olímpico traduzida para o português:


Espírito imortal da Antiguidade

Criador augusto da verdade, beleza e bondade

Desça aqui, apresente-se, irradie sua luz sobre nós,

Por este campo e debaixo deste céu

Que primeiro testemunharam

Sua fama imperecível


Traga vida e entusiasmo para estes nobres Jogos!

Atire coroas de flores com frescor eterno aos vitoriosos

Da corrida e da luta

E crie em nossos peitos corações de aço!


Em sua luz, planícies, montanhas e mares

Brilham em matizes rosados e formam um vasto templo

No qual as multidões de todas as nações vão adorá-lo

Oh, espírito imortal da Antiguidade


DE ATENAS (1896) A PARIS (2024)


Embora influenciado pelos ideais dos Jogos de Wenlock, nem todos os conceitos foram adotados na primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, em 1896. Ao contrário de Brookes, que, à frente do seu tempo, preocupava-se em estender a prática esportiva às mulheres e em manter o sentido de lazer e prazer nas competições, Barão de Coubertin não era favorável à participação de trabalhadores e nem de mulherers no esporte. Para Coubertin as comptições olímpicas eram privilégio dos aristocratas do sexo masculino.


Assim, a primeira edição dos Jogos Modernos, em Atenas (1896), contou com a participação de 241 atletas masculinos, representando 14 países. Nesta edição foram realizados 9 esportes: atletismo, esgrima, tênis, tiro, levantamento de peso, natação, ginástica, ciclismo e luta.


Durante os 128 anos de Jogos Olímpicos da Era Moderna, várias coisas aconteceram, e com as várias mudanças e transformações sociais, culturais, tecnológicas o cenário esportivo e, consequentemente, os Jogos Olímpicos, foram palco de marcos históricos. O Almanaque da Cultura Corporal tentou, de forma muito resumida e direta, apresentar, em ordem cronológica, alguns fatos importantes que aconteceram ao longo desses anos:


  • 1896 Atenas: Os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna foram realizados na própria Grécia, berço dos Jogos Antigos. Com 245 atletas de 14 nações competindo em 43 provas de nove esportes, os Jogos de Atenas enfrentaram desafios organizacionais e tiveram participação limitada, mas lançaram as bases para o movimento olímpico moderno.

  • 1900 Paris: Indo contra os ideais do Barão de Coubertin, a segunda edição dos Jogos Olímpicos marcou a estreia das mulheres nas competições, embora com participação restrita a poucos esportes: tênis, vela, croquet, equitação e golfe. 

  • 1924 Paris: Os primeiros Jogos Olímpicos de Inverno ocorreram em Chamonix, na França, expandindo significativamente o movimento olímpico. Com 64 atletas de 11 países competindo em 59 provas de nove esportes, incluindo esqui, patinação artística e hóquei no gelo, os Jogos de Inverno consolidaram o movimento olímpico como uma celebração global do esporte em todas as estações do ano.

  • 1936 Berlim: Realizados sob a sombra da Alemanha Nazista, os Jogos Olímpicos de Berlim foram utilizados como plataforma de propaganda nazista. Apesar disso, os Jogos também viram as extraordinárias conquistas de atletas negros como Jesse Owens, que conquistou quatro medalhas de ouro e quebrou recordes mundiais, desafiando a ideologia racista de Hitler.

  • 1968 Cidade do México: A saudação feita por Tommie Smith e John Carlos durante a cerimônia de premiação dos 200 metros rasos tornou-se um poderoso símbolo do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos: de punhos cerrados e de luvas, ergueram os braços fazendo referência a saudação “Black Power”, três meses após o assassinato do líder negro Martin Luther King. Os atletas foram banidos dos eventos esportivos subsequentes a esse episódio. Seu protesto silencioso contra a injustiça racial na América chamou a atenção mundial e destacou as tensões sociais e políticas da época.

  • 1972 Munique: O massacre de Munique, um ataque terrorista contra a equipe olímpica israelense, lançou uma sombra sobre os Jogos. A tragédia, que resultou na morte de 11 atletas, treinadores e oficiais israelenses, chocou o mundo e forçou uma reavaliação das medidas de segurança em eventos olímpicos futuros.

  • 1980 Moscou e 1984 Los Angeles: Esses Jogos foram marcados por boicotes dos Estados Unidos e da União Soviética, respectivamente, devido às tensões políticas da Guerra Fria. Os boicotes destacaram a vulnerabilidade do movimento olímpico a conflitos geopolíticos e levantaram questões sobre a neutralidade dos Jogos.

  • 1992 Barcelona: Os Jogos Olímpicos de Barcelona marcaram um ponto de virada na era moderna olímpica. Realizados em uma cidade em processo de renovação urbana, os Jogos apresentaram arquitetura inovadora e uma cultura vibrante. Também introduziram novos níveis de profissionalismo na gestão de atletas e cobertura midiática, estabelecendo um padrão para futuros eventos olímpicos.

  • 1994 Lillehammer: As Olimpíadas de Inverno de Lillehammer elevaram os Jogos de Inverno a um novo nível de atenção internacional. Com um número recorde de países e atletas participantes, os Jogos mostraram o crescente interesse pelos esportes de inverno em todo o mundo.

  • 1996 Atlanta: Os Jogos Olímpicos do Centenário em Atlanta, nos Estados Unidos, marcaram um marco significativo na comercialização e alcance global das Olimpíadas. Os Jogos atraíram grandes contratos de patrocínio e audiência televisiva, consolidando as Olimpíadas como um importante evento comercial e midiático.

  • 2000 Sydney: As Olimpíadas de Sydney, na Austrália, foram conhecidas por sua diversidade cultural e avanços tecnológicos. Os Jogos introduziram novos esportes, como triatlo e taekwondo feminino, e apresentaram a identidade multicultural da Austrália a um público global.

  • 2014 Sochi: As Olimpíadas de Inverno de Sochi, na Rússia, foram marcadas por um investimento significativo na infraestrutura de esportes de inverno. Os Jogos apresentaram instalações de última geração e introduziram novos eventos, como o salto de esqui feminino, refletindo a crescente participação das mulheres nos esportes de inverno.

  • 2020 Tóquio (realizado em 2021): Os Jogos Olímpicos de Tóquio, originalmente programados para 2020, foram adiados devido à pandemia global de COVID-19. Os Jogos foram realizados sob rigorosos protocolos de saúde e segurança, com público limitado e significativos desafios logísticos, destacando a adaptabilidade do movimento olímpico frente a crises imprevistas.


Em 2024, na cidade de Paris, acontecerá a 30ª edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Essa edição contará com aproximadamente 10.500 atletas de 206 CONs (Comitês Olímpicos Nacionais), que disputarão 45 esportes: Basquete 3X3, Tiro com arco, Ginástica artística, Nado artístico, Atletismo, Badminton, Basquete, Vôlei de praia, Boxe, Breaking, Canoagem de velocidade, Canoagem slalom, Ciclismo BMX Freestyle, Ciclismo BMX Racing, Ciclismo Mountain Bike, Ciclismo de estrada, Ciclismo de pista, Saltos Ornamentais, Hipismo, Esgrima, Futebol, Golfe, Handebol, Hóquei, Judô, Maratona aquática, Pentatlo moderno, Ginástica rítmica, Remo, Rugby sevens, Vela, Tiro esportivo, Skate, Escalada esportiva, Surfe, Natação, Tênis de mesa, Taekwondo, Tênis, Ginástica de trampolim, Triatlo, Vôlei, Polo aquático, Levantamento de peso, Luta.


Além da inclusão de novas modalidades, como o Breaking e a Canoagem slalom extremo, Paris 2024 entra para história pois, pela primeira vez nas Olimpíadas, o número de atletas masculinos e femininos se equipara. Mais do que um símbolo, essa conquista representa um grande passo para a igualdade de gênero no esporte.


A figura de Marianne, símbolo da República Francesa e presente na logo dos Jogos, reforça essa mensagem. A competição foi meticulosamente planejada para promover a equidade entre os gêneros.


  • Das 32 modalidades esportivas, 28 contarão com a participação de homens e mulheres.

  • Mais da metade das provas terá atletas femininas, totalizando 152 competições.

  • No masculino, serão 157 disputas.

  • E para completar, 20 eventos serão mistos.


O CRITÉRIO PARA INCLUSÃO DE MODALIDADES NOS JOGOS OLÍMPICOS


A inclusão de uma modalidade esportiva no programa olímpico é um processo complexo e multifatorial, regido por critérios estabelecidos pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Para que um esporte seja considerado olímpico, é necessário, em primeiro lugar, o reconhecimento formal pelo COI e a filiação a uma Federação Internacional correspondente. Essa federação deve adotar o Código Antidoping e alinhar-se aos princípios da Carta Olímpica.


Além do reconhecimento formal, a modalidade precisa demonstrar um alcance global significativo, com um número mínimo de países praticantes em diferentes continentes, tanto no âmbito masculino quanto feminino: obrigatoriamente a modalidade precisa ser praticada por homens de ao menos 75 países em 4 continentes, e por mulheres de 40 países em 3 continentes.


Adicionalmente, o esporte deve apresentar potencial para engajar o público e gerar interesse comercial.


A história do futebol nas Olimpíadas ilustra a dinâmica das relações entre o COI e as federações internacionais. A imposição de limites de idade para os atletas nas competições olímpicas, por exemplo, é resultado de negociações entre o COI e a FIFA, que busca preservar a relevância da Copa do Mundo.


O caso do futsal evidencia a complexidade dos critérios de inclusão e a influência de fatores políticos nas decisões do COI. Embora o futsal atenda aos requisitos técnicos para ser considerado um esporte olímpico, a disputa por datas no calendário esportivo e a resistência da FIFA em flexibilizar as regras para os Jogos Olímpicos têm sido obstáculos para sua inclusão.


A inclusão de novas modalidades, como o surf, o skate e o breaking, por exemplo, nas últimas edições, demonstra a busca do COI por um programa olímpico mais atrativo para as novas gerações. No entanto, a decisão de incluir ou excluir um esporte envolve uma série de considerações, incluindo o impacto na tradição olímpica, a viabilidade logística e o potencial de gerar receitas.


O BRASIL NOS JOGOS OLÍMPICOS


A primeira participação do Brasil nos Jogos Olímpicos, aconteceu em 1920, em Antuérpia, na região da Flandres, na Bélgica. Desde então, o país conquistou 150 medalhas em Jogos Olímpicos (37 de ouro, 42 de prata, 71 de bronze). Esse desempenho o coloca como a nação mais vitoriosa da América do Sul nos Jogos e o 4º maior ganhador das Américas, atrás apenas de EUA, Canadá e Cuba.


Número de medalhas conquistadas pelo Brasil por modalidades

O primeiro atleta brasileiro a conquistar uma medalha olímpica foi Afrânio da Costa. Já na primeira participação brasileira, em 1920, Afrânio foi prata na pistola livre (50m), e, juntamente com Dario Barbosa, Fernando Soledade, Guilherme Paraense e Sebastião Wolf, foi bronze por equipes na pistola militar (50m).

Relação de medalhas de ouro, prata e bronze, conquistadas pelo Brasil, entre 1920 e 2020

Além disso, precisamos registrar que Maria Lenk foi a primeira mulher brasileira a participar de uma Olimpíadas, em 1932, em Los Angeles.


Nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, a delegação brasileira será composta por mais mulheres do que homens pela primeira vez. Essa conquista representa um passo importante na luta pela equidade de gênero no esporte brasileiro. Cerca de 190 atletas, divididas em diversas modalidades, vestirão as cores do Brasil em busca de glória e de inspirar novas gerações. Essa edição dos Jogos marca a participação mais expressiva de mulheres na história do nosso país, demonstrando o crescimento do esporte feminino e a quebra de barreiras.


O BRASIL NOS JOGOS DE PARIS 2024: AS DONAS DO PÓDIO

A delegação brasileira para os Jogos de Paris 2024 foi composta por 274 atletas, disputando 39 modalidades.


O Brasil encerra os Jogos Olímpicos de Paris com um total de 20 medalhas conquistadas: 3 de ouro, 7 de prata e 10 de bronze. Este é o segundo melhor resultado do país (considerando o número de medalhas) desde sua primeira participação nos Jogos, em 1920, atrás apenas de Tóquio 2020.


Entretanto, o que realmente entra para história e que, certamente, precisa ser dito, estudado e reverenciado não é a quantidade de medalhas conquistadas, mas a força feminina nesses Jogos.


Das 20 medalhas brasileiras, 12 foram conquistadas por mulheres, e uma de forma mista no Judô por equipes. Melhor ainda: as três medalhas de ouro do Brasil são conquistas de mulheres! Bia Ferreira (Judô +78kg), Rebeca Andrade (Solo Individual) e a dupla Duda e Ana Patrícia (Vôlei de Praia).


Rebeca Andrade, uma personagem a parte nesses Jogos, entra para história do esporte brasileiro ao tornar-se a maior medalhista olímpica do Brasil.


O que isso nos diz? Muita coisa! Se pensarmos que no Brasil as mulheres, além de "largarem" atrás na corrida do esporte, enfrentam, diariamente, os discursos e as ações machistas, esses números são gritos de liberdade e de socorro.


Para começarmos a refletir, precisamos lembrar, de forma bastante resumida, que, inicialmente, na Grécia Antiga (berço dos Jogos Olímpicos) as mulheres eram proibidas de participar e de assistir eventos esportivos. Durante a década de 1930, a sociedade patriarcal acreditava que as mulheres deveriam reservar sua energia para a reprodução e a maternidade, considerando o esporte uma atividade inadequada para elas. No Brasil, por exemplo, esportes como futebol e lutas foram proibidos para mulheres durante a ditadura militar: “às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza". Esse é um trecho retirado do decreto 3199, mais precisamente do seu artigo 54, publicado em 1941.


Segundo Brenda Elsey, professora da Universidade Hofstra e autora do livro Futbolera: A History of Women and Sports in Latin America, a saúde ou fertilidade das mulheres não era a verdadeira preocupação dos apoiadores da lei. “tudo não passou de uma tática para limitar a liberdade das mulheres, suas atividades no tempo livre e sua capacidade de expressão, além de uma grande demonstração de homofobia”. O decreto 3199 durou 38 anos. Ou seja, somente em 1983 que o futebol feminino começou a ser regularizado no Brasil.


Segundo o Ministério das Mulheres (Brasil, 2024), a cada 6 horas uma mulher é vítima de feminicídio, onde 63% dessas vítimas são negras; a cada 6 minutos uma menina ou mulher sofre violência sexual; a cada 24 horas são denunciados 113 casos de importunação sexual; 3 em cada 10 mulheres brasileiras já foram vítimas de violência doméstica. Em 2023 o Brasil registrou 1.463 casos de mulheres que foram vítimas de feminicídio.


Outro fator é a diferença salarial entre os gêneros. Se pegarmos como exemplo a Seleção Feminina de Futebol, medalha de prata nos Jogos de 2024, percebemos que a média salarial dessas atletas (as melhores atletas de futebol do nosso país), é o equivalente ao de um jogador de futebol do Mirassol Futebol Clube (time que em 2024 disputa a série B do campeonato brasileiro).


Infelizmente o apoio aos atletas olímpicos brasileiros possuem data de validade: acontece apenas durante as transmissões dos Jogos Olímpicos, de 4 em 4 anos. Isso é ótimo! Vibrar e torcer pelos nossos atletas faz parte! Mas o real apoio, a real torcida, deve acontecer nos anos que antecedem os Jogos. É no ciclo olímpico que os investimentos precisam ser feitos para que os frutos, ou melhor, as medalhas, sejam colhidas nos Jogos. É preciso pensar fora das quadras. Políticas públicas de formação esportiva, valorização da Educação Física escolar, de igualdade de gênero, contra o preconceito racial, precisam ser feitas e transformadas.


 

Referências:


BRAUN, Julia. Futebol feminino: os pretextos usados para proibir prática no Brasil e no exterior. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cw4gjkxlrdko


Comitê Olímpico Internacional. Carta Olímpica: em vigor desde 8 de julho de 2011. Lisboa: Instituto Português do Desporto e Juventude, Ip, 2011. Tradução de: Alexandre Miguel Mestre; Filipa Saldanha Lopes. Disponível em: https://www.fadu.pt/files/protocolos-contratos/PNED_publica_CartaOlimpica.pdf. Acesso em: 19 jul. 2024.


COUBERTIN, Barão Pierre de. L'emblème et le drapeau de 1914. In.: Revue olympique: bulletin trimestriel du Comité International Olympique, Vol. 92, 1913. Disponível em: https://library.olympics.com/Default/doc/SYRACUSE/169704/revue-olympique-bulletin-trimestriel-du-comite-international-olympique-vol-92-aout-1913?_lg=en-GB


FREITAS, Armando; BARRETO, Marcelo. Almanaque Olímpico: 1896, 2024. Comitê Olímpico do Brasil, 2024.


GODOY, Lauret. Os Jogos Olímpicos na Grécia Antiga. São Paulo: Nova Alexandria, 1996.


SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA. A evolução do esporte Olímpico. Serviço Social da Indústria (São Paulo). São Paulo: SESI-SP Editora, 2012.


STIGGER, Marco Paulo. Educação Física, Esporte e Diversidade. Campinas: Editora Autores Associados, 2005

1 Kommentar


Parabéns Gabriel!! Seus textos são ótimos, excelente fonte de consulta. Sem falar no aspecto da linguagem, das imagens, diagramação... Perfeito!!!

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