top of page

A luta senegalesa, conhecida como Laamb em wolof, é uma prática ancestral que se mantém viva e relevante na sociedade contemporânea do país. Além de ser um esporte nacional, o Laamb é um fenômeno cultural profundamente enraizado na tradição senegalesa, combinando elementos ritualísticos, mágicos e esportivos.


O Laamb é uma prática que acompanhou o processo de urbanização do Senegal, mantendo-se presente tanto nas áreas rurais quanto nos grandes centros urbanos. Nos vilarejos mais remotos, a luta continua a ser uma tradição viva, enquanto nas cidades, especialmente na capital Dacar, ela se transformou em um esporte de massa, com grandes eventos transmitidos ao vivo pela televisão e estádios lotados, atraindo multidões de até trinta mil pessoas. A luta senegalesa não apenas resistiu às mudanças sociais e urbanas, mas também se adaptou a elas, incorporando patrocínios comerciais e regras modernas, sem, no entanto, abandonar seus fundamentos tradicionais.



O Laamb é marcado por uma forte carga ritualística e mística. Antes de entrar na arena, os lutadores são acompanhados por seus marabus, líderes espirituais responsáveis por sua proteção. Os marabus utilizam uma variedade de objetos mágicos, como gri-gris (amuletos), poções, animais secos ou vivos, leite de cabra e outros artefatos, para invocar poderes sobrenaturais e garantir a vitória do lutador. Essa batalha espiritual ocorre paralelamente ao combate físico, criando uma dinâmica de trabalho em equipe entre o lutador e seu marabu.


Os lutadores também se apresentam vestindo "assemblagens" corporais, compostas por colares, chifres, cobras, cabeças de bode e mantos de couro, que têm como objetivo proteger o corpo e invocar forças sobrenaturais. Antes do combate, os lutadores executam uma dança chamada bakk, que serve para atrair a atenção do público e coletar energias positivas. A musicalidade é outro elemento central do ritual, com tambores batendo em complexos ritmos e um coro de cantoras entoando cantos repetitivos e intensos, que incitam ao transe e elevam a energia do ambiente.


Existem dois estilos principais de Laamb: a lutte avec frappe (luta com golpes) e a lutte sans frappe (luta tradicional, sem golpes). Ambos os estilos são realizados em dois tempos de dez minutos, ou até que um dos lutadores consiga derrubar o adversário, fazendo com que ele toque o chão com a cabeça, nádegas, costas ou quatro pontos do corpo. O combate é realizado sem proteções corporais, como luvas ou capacetes, o que exige dos lutadores não apenas força física, mas também estratégia e habilidade.



O público desempenha um papel ativo no Laamb, não apenas como espectador, mas como participante do ritual. Durante os combates, os espectadores torcem, gritam e contribuem com suas próprias energias e gri-gris, somando-se às forças dos lutadores. Essa interação entre os lutadores, os marabus e o público cria um ambiente de intensa conexão coletiva, reforçando o caráter comunitário da prática.


Além disso, a luta senegalesa transcende o âmbito esportivo, sendo um símbolo de identidade nacional e sucesso. Os grandes campeões do Laamb são vistos como heróis nacionais, e suas imagens são frequentemente utilizadas em campanhas publicitárias, especialmente por empresas de telecomunicações e cartões de crédito. Essa visibilidade midiática contribui para a popularização e valorização da luta, tanto no Senegal quanto internacionalmente.


Neste sentido, o Laamb é uma expressão cultural multifacetada que combina tradição, ritual e modernidade. Enquanto prática ancestral, mantém seus fundamentos mágicos e ritualísticos, passados de geração em geração. Como esporte moderno, adaptou-se aos novos tempos, incorporando elementos da urbanização e da globalização, sofrendo o processo de mercadorização. A luta senegalesa não é apenas um esporte, mas um fenômeno social que reflete a identidade e os valores do povo senegalês, unindo passado e presente em uma dinâmica vibrante e cheia de significado.



 

Referências:



MONTEIRO, Edu. Laamb e Ladja. Africanidades: a revista do Mafro, v. 2, n. 2, p. 9-19, 2022. Disponível em: https://revbaianaenferm.ufba.br/index.php/af/article/download/53601/28688

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Se inscreva para receber atualizações

Almanaque da Cultura Corporal

O seu site sobre a cultura corporal

  • Instagram
  • X
  • Linkedin

Almanaque da Cultura Corporal

Gerenciada por Gabriel Garcia Borges Cardoso

bottom of page