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Jogos Paralímpicos

Atualizado: 20 de ago.

Gabriel Garcia Borges Cardoso


O movimento Paralímpico, um marco na história do esporte e da inclusão social, teve suas raízes na Inglaterra, após a Segunda Guerra Mundial. O neurologista alemão Ludwig Guttmann, reconhecendo o potencial terapêutico do esporte, fundou um centro de reabilitação para veteranos com lesões medulares no Hospital Stoke Mandeville.


Neurologista renomado na Alemanha da década de 1930, Guttmann foi forçado a fugir para a Inglaterra devido às perseguições nazistas. Chegando ao Reino Unido, ele logo se destacou em Stoke Mandeville, revolucionando o tratamento de paraplégicos.


Entretanto, antes de aprofundarmos no contexto histórico da origem dos Jogos Paralímpicos, algumas reflexões precisam ser traçadas, mesmo que de forma breve, para que sejamos capazes de refletir sobre "os porquês" que motivaram a organização do esporte paralímpico que, em 2024, ocorre sua 17ª edição.


Assim, o Almanaque da Cultura Corporal apresentará, nesta semana que antecede os Jogos Paralímpicos de Paris 2024:



Esperamos que esse material possa, de alguma forma, auxiliá-los.


 

A história social de pessoas com deficiência


Antes de tudo, assim como apresentam Rodrigues e Maranhe (2012) e Pereira e Saraiva (2017), precisamos compreender que as diferentes formas de ver as deficiências e, consequentemente, as pessoas com deficiência, está diretamente ligado e é influenciado pelos costumes e crenças de cada povo, pelas suas necessidades, pelo nível de conhecimento disponível em cada época, e pelas legislações vigentes em determinado tempo histórico.


Sendo assim, a compreensão da deficiência é um fenômeno cultural e histórico, moldado por um conjunto complexo de fatores sociais, políticos e econômicos, ou seja: as concepções sobre a deficiência variam significativamente ao longo do tempo e entre diferentes culturas, sendo influenciadas pelo contexto histórico e sociocultural - crenças, valores e costumes de cada sociedade, assim como o nível de conhecimento científico disponível em determinada época - e pelas leis e normas vigentes em cada país.


A história da humanidade revela uma trajetória complexa e variada na relação com a deficiência. Em sociedades primitivas, marcadas pelo nomadismo e pela dependência direta dos recursos naturais, a sobrevivência era prioritária. Indivíduos com deficiências, que poderiam comprometer a mobilidade e a capacidade de caça e coleta, eram frequentemente marginalizados e, em alguns casos, abandonados em ambientes inóspitos. Essa prática, embora cruel sob a perspectiva contemporânea, era justificada pela necessidade de garantir a sobrevivência do grupo.


Na Antiguidade, civilizações como Esparta e Atenas, que idealizavam a perfeição física e a força, desenvolveram práticas eugênicas que visavam à eliminação de indivíduos considerados indesejáveis, incluindo aqueles com deficiências, justificadas pelos princípios estéticos, militares e eugenistas. "Em Esparta, as crianças com deficiência eram lançadas do alto dos rochedos e, em Atenas, eram rejeitadas e abandonadas nas praças públicas ou nos campos" (Rodrigues; Maranhe, 2012, p. 13).


Por outro lado, a concepção de deficiência e a forma como as pessoas com deficiência eram tratadas na sociedade egípcia antiga divergem significativamente de muitas outras civilizações da época. Evidências arqueológicas e iconográficas sugerem que, no Egito, a deficiência física não era um fator determinante de exclusão social. Ao contrário, indivíduos com diversas limitações físicas integravam os mais variados estratos sociais, desde a realeza até as classes populares.


A Idade Média europeia apresentou uma visão complexa e ambivalente sobre a deficiência. Inicialmente marcada pela continuidade de práticas antigas, a chegada do cristianismo introduziu novas perspectivas. A figura de Cristo, que curava enfermos e excluídos, inspirou atitudes de compaixão e caridade em relação aos deficientes. A Igreja, ao reconhecer a alma dessas pessoas, as elevou à condição de "filhas de Deus", mitigando práticas de abandono e exclusão comuns em períodos anteriores.


No entanto, a igualdade teórica não se traduziu em igualdade social. Pessoas com deficiência, especialmente as com deficiência intelectual, eram frequentemente confinadas em conventos ou igrejas, ou expostas em espetáculos públicos. A caridade, muitas vezes, coexistia com a estigmatização e a discriminação. A visão de Martinho Lutero, que associava a deficiência intelectual à possessão demoníaca, exemplifica essa ambivalência.


A partir do século XIII, surgiram as primeiras iniciativas de cuidado sistemático para pessoas com deficiência. A criação de colônias agrícolas e a elaboração de legislação específica, como a "Da praerogativa regis" - considerada a primeira legislação sobre os cuidados com a sobrevivência e com os bens das pessoas com deficiência intelectual e Transtornos Psiquiátricos, elaborada em 1325, e instituída por Eduardo II, rei da Inglaterra -, demonstram uma crescente preocupação com o bem-estar dessas pessoas. No entanto, essas iniciativas ainda eram marcadas por uma distinção clara entre a deficiência mental e a doença mental, sendo a primeira associada à incapacidade permanente e a segunda a transtornos temporários.


A Inquisição, com sua busca implacável por hereges e feiticeiros, representou um retrocesso significativo para as pessoas com deficiência. Indivíduos com características físicas ou mentais consideradas desviantes eram frequentemente acusados de bruxaria e condenados à morte. O "Malleus Maleficarum", do latim "Malleus Maleficarum, Maleficas & earum haeresim, ut framea potentissima conterens" (Martelo das Feiticeiras o qual destrói as bruxas e a sua heresia, como uma espada de dois gumes), é um livro/manual inquisitorial, publicado no século XV, pelos dominicanos Heinrich Kraemer (também conhecido por Heinrich Institoris) e James Sprenger, na Alemanha, com o objetivo de ser um manual de combate aos praticantes de heresias, que contribuiu para a perseguição e o extermínio de muitas pessoas com deficiência.


Em resumo, a Idade Média foi um período marcado por contradições na abordagem da deficiência. A influência do cristianismo promoveu atitudes de compaixão e caridade, mas a persistência de valores sociais e culturais discriminatórios, aliada à intolerância religiosa, resultou em práticas cruéis e excludentes.


Os séculos XVI, XVII e XVIII foram marcados por transformações significativas nas concepções sobre a deficiência intelectual, refletindo as mudanças nos campos da medicina, filosofia e educação.


No século XVI, a figura de Paracelso (1493-1541) se destaca ao propor uma nova abordagem para a deficiência intelectual, deslocando-a do âmbito religioso para o médico. Sua obra "Sobre as doenças que privam o homem da razão" inaugurou um debate sobre a deficiência como um problema passível de tratamento e compreensão científica. Girolamo Cardano (1501-1576), por sua vez, ampliou essa discussão ao enfatizar a importância da educação para pessoas com deficiência intelectual.


A partir do século XVI, a legislação europeia também passou a abordar a questão da deficiência, com a criação de leis que visavam proteger os bens e direitos de pessoas consideradas loucas ou idiotas. Essas leis, ao reconhecer a deficiência como uma condição médica ou natural, contribuíram para a desmedicalização da loucura e da idiotia.


No século XVII, John Locke (1632-1704) revolucionou a compreensão da mente humana, propondo a teoria da "tabula rasa". Essa teoria, que concebe a mente como uma folha em branco a ser preenchida pela experiência, influenciou profundamente as concepções sobre a deficiência intelectual. Locke argumentava que a deficiência era resultado de uma falta de experiências e que a educação poderia suprir essa carência.


Condillac (1714-1780), seguindo os passos de Locke, desenvolveu uma teoria psicológica baseada na ideia da "tabula rasa", buscando explicar como o conhecimento é adquirido e como podem surgir atrasos no desenvolvimento.


Em suma, os séculos XVI, XVII e XVIII foram marcados por uma gradual mudança na percepção da deficiência intelectual, que passou de uma visão predominantemente religiosa e moral para uma abordagem mais científica e humanista. A medicina, a filosofia e a educação desempenharam um papel fundamental nesse processo, contribuindo para a construção de novas concepções sobre a natureza e as possibilidades de desenvolvimento das pessoas com deficiência intelectual.


Inspirados nas concepções iniciais de Locke, médicos pedagogos começam a elaborar e a defender a necessidade de uma Educação Especial. Essa educação era realizada a partir de tutorias, ou seja, não havia nenhum tipo de diretriz que organizasse os conhecimentos a serem aplicados e ensinados (Mendes, 2010). Nesse período, começam a surgir as escolas para crianças com deficiência intelectual. Rodrigues e Maranhe (2012), em sua pesquisa, informam que uma dessas escolas, a escola de Abendberg, criada em 1840, tinha como objetivo a recuperação dos cretinos e idiotas, visando sua autonomia e independência. Nessa mesma época, surge Johann Heinrich Pestallozzi (1746-1827).


Pestallozzi defendia que a educação era o direito absoluto de toda criança, inclusive daquelas provenientes das classes populares. Para ele, todo homem deveria adquirir autonomia intelectual para poder desenvolver uma atividade produtiva autônoma. Friedrich Froebel (1782-1852) - o precursor do Jardim de Infância -, aluno de Pestallozzi, criou um sistema de Educação Especial com materiais e jogos específicos, simples e eficazes, que tornam o ensino mais produtivo, ganhando um aspecto lúdico e concreto.


Entretanto, no início dos anos 1800, os chamados “circos de horrores” ou “freak shows” constituíram um fenômeno cultural marcante nos Estados Unidos,. Nesses espetáculos, indivíduos com características físicas consideradas anômalas, como anões, albinos e pessoas com deficiência física, eram expostos ao público como atrações principais.


Phineas T. Barnum, figura emblemática do entretenimento circense, desempenhou papel crucial na popularização desses espetáculos. Após iniciar sua carreira com exibições de animais adestrados e apresentações sensacionalistas, Barnum fundou, em parceria com James Bailey e L. James Hutchinson, o famoso circo Barnum & Bailey, que se tornou um dos maiores do mundo.


No circo de Barnum, as “curiosidades humanas” substituíram os animais como o centro das atenções. O público pagava para observar indivíduos que eram marginalizados e estigmatizados pela sociedade, sendo tratados como “aberrações da natureza”. Esse tipo de entretenimento, que explorava a curiosidade mórbida e a exclusão social, refletia as concepções de normalidade e anormalidade vigentes na época.


A decadência dos "circos de horrores" pode ser atribuída a diversos fatores: o avanço da medicina e da genética, que contribuiu para uma melhor compreensão das causas das anomalias físicas, desmistificando-as e humanizando aqueles que as portavam; as transformações culturais e sociais, com a crescente valorização da diversidade e dos direitos humanos, que levaram a uma mudança de percepção em relação às pessoas com deficiências ou características físicas distintas; e a proibição legal da exploração de indivíduos com fins lucrativos em espetáculos circenses.


O século XIX e início do século XX foram marcados por avanços significativos na área das políticas públicas para pessoas com deficiência, com a criação de instituições de apoio, promoção da reabilitação e pela defesa dos direitos desses indivíduos. Nesse período, Maria Montessori (1870-1952) cria um método de educação voltado para crianças com deficiências, partindo do concreto rumo ao abstrato. Esse método baseava-se na observação de que crianças aprendem melhor pela experiência direta de procura e descoberta.


Assim como nos apresenta Pereira e Saraiva (2017) nos Estados Unidos, a criação de lares para veteranos com deficiência após a Guerra Civil demonstrava uma preocupação inicial com a reabilitação e a inclusão social. Na Europa, a ortopedia emergia como uma nova área do conhecimento, buscando não apenas tratar as lesões físicas, mas também promover a autonomia e a qualidade de vida das pessoas com deficiência. A Dinamarca, com a criação da "Sociedade e Lar para Deficientes", destacou-se ao incentivar o trabalho manual e cooperativo como forma de garantir o sustento dessas pessoas.


Entretanto, essa trajetória de avanços foi interrompida pela ascensão do nazismo, que implementou um programa de eugenia, resultando no extermínio em massa de pessoas com deficiência.


Após a Segunda Guerra Mundial, o Estado de Bem-Estar Social, que se expandia na Europa, passou a incluir as pessoas com deficiência entre seus beneficiários. O aumento do número de pessoas com deficiência, especialmente entre os veteranos de guerra, impulsionou a criação de políticas públicas mais abrangentes e a participação de organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas, na discussão sobre os direitos dessas pessoas.


A criação da Comissão Central para o Cuidado do Deficiente, na Grã-Bretanha, em 1919, exemplifica esse novo momento histórico, no qual a assistência às pessoas com deficiência se tornou uma prioridade governamental.


É nesse período histórico, pós Segunda Guerra Mundial, que o neurologista alemão Ludwig Guttmann, reconhecendo o potencial terapêutico do esporte, fundou um centro de reabilitação para veteranos com lesões medulares no Hospital Stoke Mandeville, berço dos Jogos Paralímpicos.


De todo o período histórico, talvez o século XX tenha sido o que transformou o olhar e o agir relacionado as pessoas com deficiência. Mais especificamente ligado à educação de crianças e jovens deficientes, a partir da década de 1960, surge, com a intenção de lutar contra a ideia de segregação, o movimento denominado de integração. Esse movimento, segundo Mendes (2010), é formulado baseado em três ideais: moral, racional e científico.


A base moral do movimento era pautada no discurso de que as crianças com algum tipo de deficiência deveriam ter o direito de participar dos programas e atividades que eram disponibilizados às demais crianças. A base racional propunha benefícios da integração para todas as crianças. Para as crianças com alguma deficiência, a possibilidade de se integrar com as outras crianças teriam um caráter desafiador e, as crianças sem algum tipo de deficiência, serviriam como um exemplo. Para as crianças regulares, a oportunidade de conviver e se relacionar com as crianças com deficiência, permitiria que ocorresse debates relacionados ao respeito e as diferenças.


No final da década de 60 e início da década de 70, Mendes (2010) apresenta que dois autores foram fundamentais para definição do princípio da normalização e integração, Bank-Mikkesksen e Nirje. Para esses autores, o princípio era pautado no ideal de que “toda pessoa portadora de deficiência, teria o direito inalienável de experimentar um estilo padrão de vida que seria comum ou normal à sua cultura” (Mendes, 2010, p. 15).


Entretanto, foi apenas no dia 09 de dezembro de 1975 que foi aprovada a Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência, pela ONU. Nessa declaração fica oficializado, em seu artigo 3° e 4º, que:


3- As pessoas deficientes têm o direito inerente de respeito por sua dignidade humana. As pessoas deficientes, qualquer que seja a origem, natureza e gravidade de suas deficiências, têm os mesmos direitos fundamentais que seus concidadãos da mesma idade, o que implica, antes de tudo, o direito de desfrutar de uma vida decente, tão normal e plena quanto possível. 4- As pessoas deficientes têm os mesmos direitos civis e políticos que outros seres humanos (ONU, 1975).

Essa breve sistematização histórica da história social da pessoa com deficiência, nos evidencia que o período de luta pela sobrevivência foi muito maior que o período de direitos e igualdade. Se refletirmos que a primeira Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência foi publicada 50 anos atrás, conseguimos avançar em reflexões mais profundas sobre as dificuldades físicas, de direitos e de respeito que essas pessoas sofrem diariamente: de falta de acessibilidade à exclusão social.


Neste sentido, enquanto professores de Educação Física escolar, o "simples" apresentar alguns esportes paralímpicos nas aulas de Educação Física é uma forma de apresentar elementos da cultura corporal que, na maioria das vezes, são desconhecidas pelas pessoas sem deficiência, e até mesmo pelas pessoas com deficiência, que por algum motivo, não possuem acesso às práticas. A Bocha, o Vôlei Sentado, o Futebol de 5, o Basquete em Cadeiras de Rodas, são possibilidades que podem e devem estar na Educação Física Escolar. Essa apresentação e experimentação de modalidades esportivas que foram criadas no intuito de adaptar outras modalidades já existentes, para a prática de deficientes, é necessária e importantíssima. É papel do professor de Educação Física, problematizar e contextualizar acontecimentos e conceitos.


Entender a Educação Física Escolar e a Escola enquanto locais propícios para o desenvolvimento das máximas possibilidades que, historicamente, foram construídas e evoluídas pela humanidade, é entender que, apenas convidar para o baile, ou melhor, convidar a pessoa com deficiência para participar, perifericamente, das aulas de Educação Física, é ir contra o conceito de inclusão e de educação.


Assim como disse o professor José Agtonio Guedes Dantas em entrevista ao Ciclo de Debates: Inclusão da Roda: Incluir não é apenas ser convidado para o baile, mas ser chamado para dançar.


 

Os Jogos Paralímpicos: de Stoke Mandeville (1948) a Paris (2024)


Em 1948 aconteceu a primeira competição esportiva para esses atletas, marcando o início de um legado que transformaria a vida de milhões de pessoas com deficiência. Nesse evento, quatorze homens e duas mulheres de Stoke Mandeville e da Casa Star e Garter - uma instalação de Londres para militares deficientes onde o Dr. Guttman era consultor médico - competiram no tiro com arco.


O objetivo dos “Jogos de Stoke Mandeville” é unir homens e mulheres paralisados de todas as partes do mundo em um movimento esportivo internacional, e o seu espírito verdadeiramente esportivo hoje dará esperança e inspiração a milhares de pessoas paralisadas. Nenhuma contribuição maior pode ser feita à sociedade pelos paralisados do que ajudar, através do esporte, a fortalecer a amizade e o entendimento entre as nações (Tradução do texto escrito na placa da imagem acima)

Quatro anos depois, em 1952, competidores da Holanda se juntaram ao evento, dando origem ao movimento internacional conhecido hoje como Movimento Paralímpico.

Os Jogos Internacionais de Stoke Mandeville de 1954 continuaram a se desenvolver, com 14 países envolvidos. Até então, todos os atletas participantes eram paraplégicos, pacientes de hospitais ou centros de reabilitação cujos diretores médicos seguiram o exemplo de Stoke Mandeville em incluir o esporte em seus programas de fisioterapia.


Oficialmente, os Jogos Paralímpicos tiveram sua primeira edição (a 9ª edição dos Jogos Internacionais de Stoke Mandeville) no ano de 1960, em Roma. Nesta edição participaram 400 atletas de 23 países. Desde então, os Jogos Paralímpicos, assim como os Olímpicos, ocorrem a cada quatro anos.


Foi somente em 1988 que a realização dos Jogos Paralímpicos começaram a acontecer em paralelo aos Jogos Olímpicos, reforçando a ideia de que o esporte é um direito de todos, independentemente de suas capacidades físicas. A partir de então, a cidade sede dos Jogos Olímpicos também é a cidade sede dos Jogos Paralímpicos.


Em 22 de setembro de 1989, o Comitê Paralímpico Internacional foi fundado como uma organização internacional sem fins lucrativos em Düsseldorf, Alemanha, para atuar como a entidade máxima do Movimento Paralímpico global.


O termo "Paralímpico" deriva da preposição grega "para" (ao lado de) e da palavra "Olímpico", significando que os Jogos Paralímpicos são os Jogos paralelos aos Olímpicos, ilustrando como os dois movimentos coexistem.


Durante os 64 anos dos Jogos Paralímpicos, várias mudanças aconteceram. Abaixo apresentaremos as principais transformações dos Jogos Paralímpicos:


  • 1960 Roma: Acontece a primeira edição dos Jogos Paralímpicos, com 23 países e 400 atletas participantes.

  • 1964 Tóquio: O levantamento de peso é adicionado como modalidade paralímpica.

  • 1968 Tel Aviv: O Lawn Bowls é adicionado como modalidade paralímpica.

  • 1972 Heidelberg: Ocorre a primeira competição para atletas tetraplégicos e, pela primeira vez, acontecem eventos de demonstração para atletas com deficiência visual. Acontece a primeira participação do Brasil nos Jogos Paralímpicos.

  • 1976 Toronto: Primeira vez que cadeiras de rodas especializadas para corrida são usadas nos Jogos. Voleibol Standing (em pé), Goalball e o Tiro são adicionados como esportes paralímpicos. O Brasil conquista sua primeira medalha Paralímpica: Lawn Bowls (Robson Sampaio de Almeida e Luiz Carlos da Costa).

  • 1980 Arnhem: Pela primeira vez acontecem modalidades para atletas com Paralisia Cerebral. O Vôlei sentado é adicionado como modalidade paralímpica.

  • 1984 Stoke Mandeville e Nova York: O Futebol de 7 e a Bocha são adicionados como esportes. O ciclismo foi adicionado como disciplina. A Corrida em cadeira de rodas é incluída como evento de demonstração.

  • 1988 Seoul: Pela primeira vez na história, os Jogos Paralímpicos acontecem na mesma cidade e no mesmo ano dos Jogos Olímpicos, tradição que se mantém até os dias de hoje. O Judô e o Tênis em cadeira de rodas são adicionados como esportes.

  • 1996 Atlanta: O Hipismo é adicionado como esporte, e o Ciclismo de pista é adicionado como disciplina.

  • 2000 Sydney: A Vela e o Rugby em cadeira de rodas são adicionados como esportes. Acontece um recorde de vendas de ingressos.

  • 2004 Atenas: O Futebol de 5 é adicionado como esporte. O Voleibol Standing é excluído das modalidades paralímpicas.

  • 2008 China: O Remo é adicionado como esporte paralímpico.

  • 2012 Londres: Após uma ausência de 12 anos, atletas com deficiência intelectual competiram no atletismo, natação e no tênis de mesa.

  • 2016 Rio de Janeiro: A Canoagem e o Triathlon Paralímpico são adicionados como esportes, elevando o número total para 22 esportes Paralímpicos.

  • 2020 Tóquio: O Badminton e o Taekwondo Paralímpico foram adicionados ao programa paraolímpico. Os atletas brasileiros alcançaram 72 medalhas, melhor campanha do país nas paralimpíadas, com 22 medalhas de ouro, 20 de prata e 30 de bronze. O país encerrou os jogos na sétima colocação do ranking mundial, além de conquistar sua 100ª medalha de ouro na história dos Jogos Paralímpicos


 

Os símbolos Paralímpicos


O Comitê Paralímpico Internacional (IPC)

O Comitê Paralímpico Internacional (IPC) é a entidade máxima do Movimento Paralímpico, com sede em Bonn, Alemanha, fundado em 22 de setembro de 1989 como uma organização sem fins lucrativos. Atualmente é composta por:


  • 183 Comitês Paralímpicos Nacionais: 

    • Representam exclusivamente o Movimento Paralímpico em seus territórios, com direito exclusivo de inscrever atletas nos Jogos Paralímpicos e outras competições do IPC.

  • 17 Federações Internacionais:

    • Responsáveis por governar os esportes no programa paralímpico, incluindo 13 Federações Olímpicas e Paralímpicas e quatro Federações Paralímpicas de Esportes.

  • 5 Organizações Regionais:

    • Focadas em Jogos regionais, suporte aos membros e cooperação regional, abrangendo África, Américas, Ásia, Europa e Oceania.

  • 3 Organizações Internacionais de Esporte para Deficientes:

    • IBSA, Virtus e World Abilitysport (criada após a fusão de CPISRA e IWAS), concentram-se no desenvolvimento de esportes para atletas com deficiência específica.


Os Agitos

Agitos: símbolo dos Jogos Paralímpicos

Os Jogos Paralímpicos possuem um símbolo único e poderoso: os Agitos. Composto por três "linhas" coloridas – azul, vermelho e verde – que se movem em direção a um ponto central em um fundo branco, os Agitos representam o movimento constante e a união dos atletas paralímpicos de todas as nações.


Criado em 2003 pela agência de publicidade Scholz & Friends, o símbolo representa a busca constante pela excelência e a capacidade do esporte paralímpico de inspirar e transformar vidas. A escolha das cores, presentes em grande parte das bandeiras nacionais, simboliza a diversidade e a união dos atletas. O movimento em direção a um ponto central representa a missão do Comitê Paralímpico Internacional de reunir atletas de todo o mundo em torno do esporte e da busca pela excelência.


Antes dos Agitos, dois símbolos paralímpicos foram utilizados. O primeiro, usado entre 1988 e 1994, era composto por cinco Tae-Geuks, inspirados no antigo símbolo do Tai-Chi. A partir de 1994, foi adotado um segundo símbolo, composto por apenas três Tae-Geuks. Os novos símbolos, os Agitos, estrearam na Paralimpíada de Atlanta, em 1996, e foi utilizado pela última vez na Paralimpíada de Atenas, em 2004.


O lema dos Jogos Paralímpicos

O lema dos Jogos Paralímpicos é “Spirit in Motion” (Espírito em Movimento), criado para a Paralimpíada de Atenas 2004.


Este lema representa a visão paralímpica, que é permitir que os atletas inspirem e emocionem o mundo através do esporte.


Ele expressa o caráter inspirador do movimento paralímpico, bem como o desempenho de elite dos atletas paralímpicos.


A palavra “espírito” sugere que o movimento paralímpico vai além do esporte de alto rendimento, transmitindo uma mensagem poderosa. Já a palavra “movimento” indica que o movimento paralímpico deve estar sempre voltado para o futuro. O lema paralímpico foi aprovado na reunião do Conselho Executivo do IPC em abril de 2003.


O lema anterior, criado em 1996, era “Mind, Body, Spirit” (Mente, Corpo, Espírito).


Os Mascotes Paralímpicos


Desde que foram criados pela primeira vez para os Jogos Paralímpicos de Arnhem em 1980, os mascotes têm sido uma parte importante da imagem geral dos Jogos. Ao longo dos anos, houve muitos mascotes, sendo o mais recente Phryge, o mascote dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024.


Os primeiros mascotes paralímpicos, dos Jogos de Arnhem 1980, foram criados por meio de um concurso realizado pela AVRO, uma emissora de televisão holandesa, em que os participantes foram convidados a enviar modelos feitos à mão. A proposta vencedora, um par de esquilos criado por Necky Oprinsen, de St. Michelsgestel, na Holanda, foi impressa em lembranças vendidas em Arnhem.


Em 1984, os Jogos Paralímpicos de Nova York ganharam um mascote inesquecível: o leão Dan D. Lion. Criado pela professora de artes Maryanne McGrath Higgins e batizado por alunos da Human Resources School, hoje Henry Viscardi School, ele se tornou um símbolo da inclusão e do esporte. 



Nos Jogos Paralímpicos de Seul em 1988, os ursinhos Gomdoori conquistaram o coração do mundo. Com suas pernas amarradas, eles simbolizavam a superação de desafios e a importância da cooperação.


Em 1992, Barcelona recebeu os Jogos Paralímpicos com uma mascote inesquecível: Petra. Criada por Javier Mariscal, Petra é uma menina cheia de energia e determinação.


Em Sidney 2000, os Jogos Paralímpicos ganharam uma mascote inesquecível: a lagarta Lizzy. Com sua força, suas cores vibrantes e a gola em formato do mapa da Austrália, ela se tornou um símbolo da natureza, da determinação e da superação.


Em Atenas 2004, os Jogos Paralímpicos ganharam um mascote inesquecível: o cavalo-marinho Proteas. Criado por Spyros Gogos, inspirado no deus marinho da metamorfose, ele representava a força, a determinação e a capacidade de transformação, apresentando quatro valores: inspiração, força, luta e celebração.


Em Pequim 2008, os Jogos Paralímpicos ganharam uma mascote inesquecível: a vaquinha Fu Niu Lele. Criada por Wu Guanying, que cresceu em uma fazenda, ela representava a harmonia entre o homem e a natureza. Seu nome, que significa "Vaca da boa sorte e felicidade", e seu design, inspirado na vida rural, transmitiam uma mensagem de otimismo e esperança.


O carismático Tom, criado pelo estúdio Birdo, foi o mascote dos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Inspirado na rica flora brasileira, ele representa a natureza e a superação. Seu nome, em homenagem a Tom Jobim, e a relação com Vinícius, mascote olímpico, fortalecem o vínculo com a cultura brasileira. Com a missão de inspirar criatividade e determinação, Tom se tornou um ícone do paradesporto no país.


Com um toque de originalidade, as mascotes dos Jogos de Paris 2024, as Phryges, apresentam uma pequena diferença entre as versões olímpica e paralímpica: a última exibe um tênis vermelho e uma prótese na perna, simbolizando a inclusão e a diversidade. Inspiradas nos barretes frígios, símbolo da Revolução Francesa, as Phryges representam a luta por um mundo mais justo e igualitário. Vestindo as cores da bandeira francesa e com o logo de Paris 2024 em destaque, elas transmitem o espírito de união e a força do trabalho em equipe. Sob o lema 'Sozinhos somos rápidos, mas juntos vamos mais longe', as Phryges têm a missão de inspirar uma nova geração de atletas e promover mudanças significativas na sociedade através do esporte.


 

Os Jogos Paralímpicos Paris 2024


Os Jogos Paralímpicos de Paris (a 17ª edição) terá duração de 12 dias - entre os dias 28 de agosto e 8 de setembro de 2024 -, com competições intensas e emocionantes. Paris receberá mais de 4.400 atletas paralímpicos de elite, de 185 Comitês Paralímpicos Nacionais, que demonstrarão suas habilidades e superação em diversas modalidades esportivas.


Os Jogos de Paris 2024 terão 24 modalidades:


  • Atletismo

  • Badminton

  • Basquete em Cadeira de Rodas

  • Bocha

  • Canoagem

  • Ciclismo de Estrada

  • Ciclismo de Pista

  • Esgrima em Cadeira de Rodas

  • Futebol de Cegos

  • Goalball

  • Halterofilismo

  • Hipismo

  • Judô

  • Natação

  • Remo

  • Rugby em Cadeira de Rodas

  • Taekwondo

  • Tênis de Mesa

  • Tênis em Cadeira de Rodas

  • Tiro com Arco

  • Tiro Esportivo

  • Triatlo

  • Vôlei Sentado


 

O Brasil nos Jogos Paralímpicos


Desde a primeira participação em 1972 até a histórica campanha em Tóquio 2020, os atletas brasileiros conquistaram 373 medalhas, consolidando o país como uma potência no paradesporto.



A primeira medalha brasileira veio em 1976, no Lawn Bowls (Robson Sampaio de Almeida e Luiz Carlos da Costa), e desde então a delegação tem subido ao pódio em quase todas as edições. A maior evolução ocorreu na década de 90, com um aumento de 200% nas medalhas conquistadas entre Barcelona 1992 (7 medalhas) e Atlanta 1996 (21 medalhas).


Tóquio 2020 foi a melhor campanha do Brasil, com 72 medalhas, incluindo 22 de ouro, o que garantiu ao país a sétima posição no quadro geral de medalhas. O nadador Daniel Dias, com 27 medalhas, é o maior nome do paradesporto brasileiro, conquistando 14 medalhas de ouro, 7 de prata e 7 de bronze, em quatro participações.


O Brasil, nos Jogos de 2024, disputará medalhas em 20 modalidades:


  • Atletismo: 86 atletas;

  • Badminton: 3 atletas;

  • Bocha: 14 atletas;

  • Canoagem: 8 atletas;

  • Ciclismo: 6 atletas;

  • Esgrima: 7 atletas;

  • Futebol de 5: 10 atletas;

  • Goalball: 12 atletas;

  • Halterofilismo: 11 atletas;

  • Hipismo: 2 atletas;

  • Judô: 15 atletas;

  • Natação: 37 atletas;

  • Remo: 8 atletas;

  • Taekwondo: 6 atletas;

  • Tênis em cadeira de rodas: 4 atletas;

  • Tênis de mesa: 15 atletas;

  • Tiro com Arco: 5 atletas;

  • Tiro esportivo: 2 atletas;

  • Triatlo: 3 atletas;

  • Vôlei sentado: 24 atletas.


Dentre os atletas paralímpicos brasileiros, três merecem um espaço especial:


Daniel Dias, o maior nadador Paralímpico de todos os tempos, se despediu das piscinas após os Jogos de Tóquio. Com 33 anos e uma carreira brilhante, ele conquistou 27 medalhas Paralímpicas, incluindo 14 ouros. Em Tóquio, garantiu mais 3 bronzes nos 200m livre, 100m livre e no revezamento 4x50m.


Antônio Tenório da Silva, o maior judoca Paralímpico da história, conquistou 4 ouros para o Brasil. Começou no judô aos 8 anos e, após perder a visão, se tornou uma lenda no esporte. Tóquio 2020 marcou sua 7ª participação em Jogos Paralímpicos, desde sua estreia em Atlanta 1996.


Bruna Alexandre fez história em Paris 2024, tornando-se a primeira atleta paralímpica do Brasil a participar dos Jogos Olímpicos. Maior medalhista paralímpica do país no tênis de mesa, ela tem 2 bronzes no Rio 2016, uma prata e um bronze em Tóquio 2020. Em 2023, foi a primeira atleta paralímpica a competir nos Jogos Pan-Americanos, conquistando o bronze em Santiago. Também foi eleita a melhor atleta paralímpica de 2023.


 

Referências:


COMITÊ PARALÍMPICO BRASILEIRO. Resultados do Brasil. Disponível em: https://cpb.org.br/competicoes/jogos-paralimpicos-de-verao/resultados-do-brasil/


INTERNATIONAL PARALYMPIC COMMITTEE. Summer Paralympic Games Overview. Disponível em: https://www.paralympic.org/paralympic-games/summer-overview


INTERNATIONAL PARALYMPIC COMMITTEE. Paralympic Games. Disponível em: https://www.paralympic.org/paralympic-games


MENDES, Enicéia Gonçalves. Capitulo 1- Histórico do movimento pela inclusão escolar e Capítulo 2 Perspectivas da educação inclusiva no Brasil. In: MENDES, Enicéia Gonçalves. Inclusão marco zero: começando pelas creches. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, 2010.


ONU - ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes: Resolução aprovada pela Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas em 09/12/75. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dec_def.pdf


PEREIRA, Jaquelline; SARAIVA, Joseana Maria. Trajetória histórico social da população deficiente: da exclusão à inclusão social. SER Social, Brasília, v. 19, n. 40, p. 168-185, jan.-jun./2017.


RODRIGUES, Olga Maria Piazetin Rolim; MARANHE, Elisandra André. A história da inclusão social e educacional da pessoa com deficiência. In.: CAPELLINI, Vera Lúcia Messias Fialho; RODRIGUES, Olga Maria Piazentin Rolim (Orgs.). Educação inclusiva: fundamentos históricos, conceituais e legais. Bauru: UNESP/FC, 2012.

(Coleção: Práticas educacionais inclusivas)


STOKE MANDEVILLE STADIUM. Our history. Disponível em: https://www.stokemandevillestadium.co.uk/history/

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