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Futebol

Atualizado: 11 de dez. de 2023

Relatos de jogos com bola, onde o objetivo era chutá-la até um determinado local, são encontrados durante toda a história humana. Na China, há aproximadamente 4.600 anos existia o Kamari, um jogo disputado com uma bola de 92 centímetros de diâmetro, feita de couro e cabelos ou crinas, e chutada entre duas estacas ligadas por um fio de seda. Na Roma Antiga, o Haspartum, jogado com uma bola feita da bexiga de bois e coberta por couro. Na França da Idade Média, o Soule, e na Itália, o Calcio (COLLI, 2004).


Porém, foi na Inglaterra que o futebol realmente começou a tomar forma. Tudo começou em 1863, quando duas associações de jogos de bola (futebol association e futebol tipo rugby) se separaram, porque os partidários do "rugby" não aceitavam um jogo em que era proibido segurar a bola com as mãos. E isso acabou dando origem à The English Football Association, primeira associação inglesa de futebol.



O futebol no Brasil teve seu pontapé inicial em 1894, através de Charles Miller, um jovem inglês que chegou em São Paulo após finalizar seus estudos na Europa. Considerado por muitos o “pai do futebol” no Brasil, aprendeu a jogar quando estudava na Inglaterra, no final do século XIX. Quando retornou ao Brasil em 1894, trouxe na bagagem duas bolas usadas, um par de chuteiras, um livro com as regras do futebol e uma bomba de encher bolas. Participou da fundação da Liga Paulista de Futebol, a primeira na Brasil, e ganhou, como jogador, três campeonatos da Liga. Encerrou a carreira em 1910.


Segundo Victor Andrade de Melo, no Dicionário do Esporte no Brasil: do século XIX ao início do século XX, embora seja quase que unanimidade que o Charles Miller teria sido o introdutor do futebol no Brasil, existem indícios de que esse esporte já era praticado em São Paulo desde 1875, nas várzeas dos rios localizados próximos ao centro. Desde 1888, já era praticado, também, por alguns operários ligados à nascente indústria nacional, muitas das quais de origem inglesa (MELO, 2007).


Com a popularização do futebol, o remo, esporte mais praticado no país até então, fica em segundo plano. Tal fato pode ser percebido nos nomes dos times de futebol mais antigos do Brasil: Clube de Regatas Vasco da Gama e Clube de Regatas Flamengo, por exemplo.


As regras do futebol são relativamente simples em comparação com outros esportes coletivos. As principais delas são: dois tempos de 45 minutos; 11 atletas em cada time; é proibido o uso das mãos e braços (exceto o goleiro, dentro de sua área).


As partidas são realizadas em um campo gramado, com largura mínima de 45 metros e máxima de 90 metros, e comprimento entre 90 metros e 120 metros. Segundo o livro de Regras do Jogo 2023/24, organizado e disponibilizado pela The International Football Association Board (IFAB):


O campo de jogo deve ser uma superfície totalmente natural ou, se o regulamento da competição permitir, totalmente artificial, exceto quando o regulamento da competição permitir uma combinação de materiais naturais e artificiais (sistema híbrido). A cor das superfícies artificiais deve ser verde.

Dividido ao meio por uma linha central, em cada extremidade do gramado há o Gol, o objetivo máximo do jogo, que mede 7,32 metros de comprimento, por 2,44 metros de altura.



Quando a bola ultrapassa, por completo, a linha do gol, é marcado um ponto para a equipe atacante (Gol). Ao final dos 90 minutos de jogo, a equipe que tiver feito mais gols vence a partida.



Segundo a IFAB, todas as bolas devem:


  • ser esféricas;

  • ser de material adequado;

  • ter uma circunferência entre 68 cm e 70 cm;

  • pesar entre 410 g e 450 g ao início do jogo;

  • ter uma pressão entre 0,6 e 1,1 atmosferas (600 a 1.100 g/cm2) ao nível do mar.


O critério de pontuação em campeonatos por Pontos Corridos (onde todas as equipes jogam contra todas as equipes e, ao final, vence quem tiver maior pontuação) acontece da seguinte maneira:

  • Equipe vencedora: 3 pontos;

  • Equipe derrotada: 0 ponto;

  • Empate: 1 ponto para cada equipe.


Talvez a regra mais polêmica do futebol seja a regra de número 11, a Regra do Impedimento. De forma técnica, segundo a IFAB, encontra-se em posição de impedimento quando:


• qualquer parte de sua cabeça, seu corpo ou seus pés estiver no campo do adversário (excluindo-se a linha de meio de campo) e • qualquer parte de sua cabeça, seu corpo ou seus pés estiver mais próxima da linha de fundo do campo do adversário do que a bola e o penúltimo adversário.

A IFAB continua:


Nem as mãos nem os braços de nenhum jogador, incluindo os goleiros, serão considerados. Com a finalidade de determinar com clareza o impedimento, o limite superior do braço se alinha com o ponto inferior da axila. Um jogador não estará em posição de impedimento se estiver na mesma linha: • do penúltimo adversário; ou • dos dois últimos adversários.


Em outras palavras, de forma simplificada, quando está no seu campo de ataque e à frente da linha da bola, o jogador não poderá recebe-la se não houver pelo menos dois defensores (jogadores da equipe adversária) – um jogador de linha e o goleiro, por exemplo – entre ele mesmo e a linha de fundo. No momento do passe, o jogador que está em direção ao gol, poderá estar na mesma linha do último defensor de linha (sem ser o goleiro) do time adversário. Se ele estiver à frente, será sinalizado impedimento, e a posse de bola será da equipe defensora (UNIVERSIDADE DO FUTEBOL, 2021).


Por ser o esporte mais popular do planeta, e por ser considerado, no Brasil, uma “paixão nacional”, nós, professores de Educação Física, vamos, com toda certeza, nos esbarrar com esse esporte, de forma positiva ou não. Entender a origem, os dilemas e as contradições desse esporte, certamente nos dará base para lutar pela transformação social através de problematizações e reflexões sobre temas recorrentes: racismo, machismo, homofobia, espetacularização e profissionalização do esporte, etc. Talvez essas reflexões, na escola, sejam mais importantes que o simples ensino de regras e fundamentos.


Uma das reflexões que precisamos, enquanto professores, sempre realizar nas aulas, refere-se à desvalorização do futebol feminino.


Brasil, 1941: “às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza".


Esse é um trecho retirado do decreto 3199, mais precisamente do seu artigo 54.

A “justificativa”? A preocupação com a saúde da mulher e o medo de que a prática do futebol, assim como de outras modalidades “mais duras”, pudesse prejudicar a fertilidade das jogadoras. Afinal, mulher é pra ser mãe...


O real motivo? Segundo Brenda Elsey, professora da Universidade Hofstra e autora do livro Futbolera: A History of Women and Sports in Latin America, a saúde ou fertilidade das mulheres não era a verdadeira preocupação dos apoiadores da lei. “tudo não passou de uma tática para limitar a liberdade das mulheres, suas atividades no tempo livre e sua capacidade de expressão, além de uma grande demonstração de homofobia”.


O decreto durou 38 anos. Ou seja, somente em 1983 que o futebol feminino começou a ser regularizado no Brasil.


82 anos depois da assinatura do decreto, estamos presenciando a nona edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino. O Brasil, mesmo com todas as dificuldades, participou de todas as edições do campeonato.


Ainda hoje, em pleno 2023, existem problemas relacionados ao incentivo e a regularização do futebol feminino: diferença salarial entre a seleção feminina e masculina, justificado pela questão de visibilidade e patrocinadores; falta de incentivo dentro dos clubes de futebol; machismo e menosprezo…


Para exemplificar, olhemos os valores das premiações nas últimas copas: a pior seleção masculina, aquelas eliminadas na fase de grupo, receberam 9 milhões de dólares em 2022; a melhor seleção feminina recebeu 4,29 milhões de dólares em 2019.


Torcer para a nossa seleção, bem como acompanhar o futebol feminino, é uma forma de apoiar e lutar pelo incentivo ao esporte. Afinal, como diz Aura Bonfim: “Quando não se estrutura (o futebol feminino), é quase como proibir”.


E não esqueçamos que a melhor jogadora de todos os tempos veste a amarelinha: Marta!



 

Referências:


BRAUN, Julia. Futebol feminino: os pretextos usados para proibir prática no Brasil e no exterior. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cw4gjkxlrdko


COLLI, Eduardo. Universo Olímpico: uma enciclopédia das Olimpíadas. São Paulo: Códex, 2004.


MELO, Victor Andrade de. Dicionário do Esporte no Brasil: do século XIX ao início do século XX. Campinas, SP: Autores Associados; Rio de Janeiro: Decania do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, através da sua Coordenação de Integração Acadêmica de Pós-Graduação, 2007.



UNIVERSIDADE DO FUTEBOL. O VAR e a posição de impedimento. Universidade do Futebol, 2021. Disponível em: https://universidadedofutebol.com.br/2021/02/18/como-funciona-a-linha-de-impedimento-do-var/ 


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