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Festival de Geledé

O Gèlède (Geledé, numa transcrição para a língua portuguesa) é um festival anual que presta homenagem às “nossas mães” (awon iya wa), valorizando-as não apenas como mães, mas como anciãs. Este evento ocorre durante a estação seca, entre os meses de março e maio, entre os povos Yorubas (Iorubás, numa transcrição para a língua portuguesa) do sudoeste da Nigéria e o Benin.


Nesta cerimônia, a mulher possui uma força vital que tem duas facetas: a criadora da vida e, ao mesmo tempo, a responsável pela seca, esterilidade e morte. Geralmente as cerimônias Geledé são realizadas para homenagear a mãe primordial, Iyà Nlà, e os poderes místicos das mulheres, responsáveis por canalizar energias positivas e deixarem energias negativas para trás (EL MUNDO EN FOTOGRAMAS, 2022).


Segundo o site Oduduwa:


A palavra Gèlèdé designa ao mesmo tempo um orixá, uma corporação de seres espirituais, o conjunto dos ancestrais femininos da humanidade, o culto a estes ancestrais e sua instituição, Egbé Gèlèdé. Todos os ancestrais femininos, as Ìyagbà ou Ìyámi, têm sua instituição em sociedades como Egbé Eleye, Egbé Ògbóni e Egbé Gèlèdé, consideradas secretas pelo fato de os seus conhecimentos serem transmitidos apenas a iniciados. A Sociedade Geledé, integrada por homens e mulheres, cultua as Ìyagbà, também chamadas Iyami, que simbolizam aspectos coletivos do poder ancestral feminino. Tem por finalidade propiciar a expressão de poderes místicos femininos, favorecer a fertilidade e a fecundidade, reiterar normas sociais de conduta e atrair o axé. É dirigida pelas erelú, mulheres detentoras dos segredos e poderes de Iyami, cuja boa vontade deve ser cultivada por ser essencial à continuidade da vida e da sociedade. O Culto a Geledé é encontrado principalmente entre os iorubás do ocidente, incluindo os de Ketu, Ohori, Anago, Ifoniyin, Awori, Egbado, Ibarapa, povos do estado de Ogun, na Nigéria, e os Sabe, da República do Benin. Varia muito em resultado de fatores históricos e de padrões de culto herdados e adquiridos nas diversas linhagens. Em cada cidade é associado a uma divindade da terra ou da água.

Os homens, vestidos como mulheres mascaradas, usam um par de máscaras (ou adornos de cabeça, já que não cobrem o rosto) para entreter e apaziguar as mães, que são vistas como extremamente poderosas e capazes de usar seus poderes para o bem ou para causar destruição através da feitiçaria.


O Geledé é um festival anual que celebra a sabedoria das mães anciãs e mulheres entre os Iorubá. O festival inclui dança e música como partes integrantes da cerimônia, que utiliza elementos tradicionais da música Iorubá, incluindo percussão complexa e canções. A cerimônia do Geledé é precedida por um evento chamado Efe, que ocorre na noite anterior.


As máscaras usadas no festival consistem em uma representação de um ser humano ou animal, às vezes com uma superestrutura. Essa estrutura pode amplificar um tema presente na parte inferior da máscara ou, mais frequentemente, desenvolver um tema diferente. Algumas superestruturas são apoiadas diretamente na cabeça ou no penteado da máscara, enquanto outras são apoiadas em plataformas retangulares ou circulares que se projetam para os lados ou se erguem acima da cabeça.


Segundo o Portal Geledés:


Os Iorubá dividem todas as máscaras Gęlędę em categorias masculinas (akǫgi) e femininas (abogi), algumas vezes baseadas no tema retratado na máscara. Por exemplo, uma máscara com um penteado feminino seria denominada abogi (literalmente “madeira feminina”); uma que usasse um gorro masculino seria identificada como akǫgi (literalmente “madeira masculina”). Um tema relacionado ao masculino, na super-estrutura, pode indicar um akǫgi , mas não é raro que uma cabeça com um turbante feminino possa apresentar um motivo associado ao masculino, por exemplo, a caça; um traje feminino pode ser combinado com uma máscara masculina. Porém, muito além da mera identificação de mulheres e homens, os penteados, adornos e objetos, em associação com os semblantes das máscaras, definem muito mais os papéis específicos desempenhados por esses dois amplos grupos (PORTAL GELEDÉS, 2009).

Máscaras Geledé. Disponível em: http://www.mafro.ceao.ufba.br/es/node/55


Embora existam poucas variações no formato da máscara Geledé, a imaginação dos criadores dessas máscaras é ilimitada. Literalmente, tudo o que existe sob o sol, isto é, pertencente ao reino das “donas do mundo”, inspira os criadores dessas máscaras. Elas representam Iorubás e não-Iorubás, homens, mulheres ou animais, tornando visíveis os “filhos” das mães.


Os temas encontrados nas máscaras Gęlędę são extremamente diversificados, mas fundamental, em toda a imaginária Gęlędę, é sua preocupação com a humanidade, com o ser humano encarado em seu relacionamento com outras criaturas vivas, animais, plantas, bem como com os habitantes sobrenaturais que se deslocam à vontade entre este mundo e o além. A partir desta visão, muitas crenças e atitudes, específicas mas variadas, podem ser detectadas na imaginária Gęlędę. Quando os informantes iorubá afirmam que “Gęlędę é o deus da sociedade”, eles estão expressando não apenas a natureza comunitária do culto, mas também seu impacto concreto sobre questões sociais. Não é de admirar que as máscaras Gęlędę contrastem dramaticamente com as dos Egungun. Gęlędę enfatiza a presença humana na constância dos traços da parte inferior, a cabeça de um homem ou uma mulher (PORTAL GELEDÉS, 2009).

Mesmo que de certa forma os temas sejam praticamente ilimitados, alguns são mais frequentes. Alguns estudiosos e pesquisadores classificam as máscaras em várias categorias temáticas, reconhecendo que algumas podem se encaixar em mais de uma categoria. Todos apresentam algum tipo de comentário social ou espiritual - elogios, críticas ou simplesmente uma documentação de um aspecto da vida e do pensamento Iorubás.


Entre aqueles que são honrados nas máscaras incluem-se artistas e artesãos – escultores, decoradores de cabaças, ferreiros, tatuadores, os que trabalham com couro, ceramistas, tecelões, bordadeiros, tanoeiros e os que trabalham com miçangas. Suas ocupações, a exemplo de muitas da Iorubalândia, são basica mas não exclusivamente hereditárias. A paciência, a concentração, a previsão e a perseverança são consideradas requisito para o sucesso de um artista, pois a arte, ǫnà, envolve o conceito, a decoração ou o embelezamento de um objeto e “aqueles-que-criam-arte” (oníșǫnà) se distinguem por sua habilidade na execução do meio que escolheram (PORTAL GELEDÉS, 2009).

A atividade religiosa é outra faceta da vida Iorubá honrada nas artes de Geledé. Devotos de todas as principais crenças da Iorubalândia (região cultural africana que compreende parte da Nigéria, de Togo e do Benim) são representados: aqueles que cultuam os orixás, seus sacerdotes e sacerdotisas, os muçulmanos e os cristãos. Inúmeros exemplos ilustram a amplitude e diversidade da homenagem visual aos devotos e suas crenças, pois é a sabedoria espiritual, quer decorra de fontes tradicionais Iorubás, do Islã ou do cristianismo, é que capacita os indivíduos a manipularem as forças e melhoram a qualidade de vida.



 

Referências


EL MUNDO EN FOTOGRAMAS. Baile de máscaras Geledé en Benín. Disponível em: https://www.elmundoenfotogramas.com/destinos/africa/benin/mascaras-gelede-benin/


HOWARD, Grete. Gelede Masked Festival. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/11683866@N06/2406592061/in/album-72157604461951609/


PORTAL GELEDÉS. As Máscaras de Gelede. Disponível em: https://www.geledes.org.br/as-mascaras-de-gelede/


PORTAL GELEDÉS. O que é Geledé. Disponível em: https://www.geledes.org.br/o-que-e-gelede/


ODUDUWA. Geledé. Disponível em: https://oduduwa.com.br/?cont=templo-gelede


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