O Dambe é um estilo de combate tradicional do povo Hausa (ou Hauçás) das regiões do Saara, na África Ocidental, que se assemelha, de certa forma, ao Boxe.
Essa luta possui papel significativo na cultura africana, estando profundamente ligada a rituais e celebrações. Em eventos como matrimônios, festas de colheita e cerimônias de transição, essa luta é apresentada como um símbolo de força, bravura e perpetuação das tradições herdadas.
Diferente do padrão do Boxe ocidental, onde o pugilista pode realizar ataques com ambas as mãos, no Dambe os golpes são realizados apenas pela mão dominante do lutador, enquanto a outra mão serve para se defender dos ataques.
Segundo Green (2005), originalmente, o povo Hausa introduziu essa prática fazendo uma analogia com a guerra, onde a mão livre atua como um escudo para bloquear os ataques inimigos e a mão que contém o kara - um pedaço de tecido, sob o qual é amarrada uma corda com nós (chamada de zare) - representa uma lança que atinge o adversário. Durante o combate, os lutadores de Dambe têm a liberdade de atacar qualquer parte do corpo com o punho dominante. Na tradição antiga, muitos lutadores costumavam mergulhar a mão dominante em vidro triturado, com o objetivo de causar mais danos ao adversário.
Enquanto os oponentes ficam em uma posição pronta com os joelhos flexionados, a mão atada é estendida bem para trás em preparação para desferir golpes no oponente. A mão da frente é mantida com os dedos espalhados e a palma voltada para o oponente como um “escudo” [...] Esta mão pode ser usada para agarrar e segurar a cabeça do oponente em preparação para um golpe (Green, 2005)
O objetivo central no Dambe é aplicar um único golpe “fatal” (chamado de kwab daya), ou seja, um que faz a mão ou o joelho do oponente tocar o chão ou, se bem aplicado, derruba-lo completamente no chão).
As lutas de Dambe são programadas para durarem três rounds, sendo que um round será encerrado quando:
há um longo período de inatividade;
a amarração da mão de um boxeador fica frouxa;
ou qualquer lutador “quebra voluntariamente sua postura de luta”.
Segundo Powe (apud Green, 2005), as lutas ocorrem no dandali limpo (“campo de batalha”, ou arena), ou seja, um espaço limpo dentro de uma aldeia, cercado por um círculo formado por espectadores.
Durante toda a luta há música realizada em instrumentos de percussão típicos da região: há uma bateria de tambores Hausa composta pelo kalangu primário (tambores em forma de ampulheta, de membrana dupla, pendurados no ombro do baterista) e tambores secundários, notavelmente o menor kuntuku. Os tambores são usados para tocar o take (convocação individualizada para os boxeadores). Além das batidas e batuques, existem o kirari: cantos de louvor, realizados antes e depois das lutas.
Referências:
GREEN, Thomas. Dambe: Traditional Nigerian Boxing. InYo: Journal of Alternative Perspectives, Sept, 2005. DIsponível em: https://ejmas.com/jalt/2005jalt/jcsart_Green_0905.html
LIMA, George Almeida; VASQUES, Daniel Giordani; NETO, Flavio Py Mariante. Dambe como prática corporal de luta africana: um estado da arte de artigos científicos. Identidade!, v. 28, n. 2, p. 52-75, 2023. Disponível em: https://revistas.est.edu.br/periodicos_novo/index.php/Identidade/article/view/2882/2464
OWOLABI, Deji. Foto Story: Dambe, the Nigerian combat sport with global aspiration. In.: The Cable, 2023. Disponível em: https://www.thecable.ng/photo-story-dambe-the-nigerian-combat-sport-with-global-aspiration/#google_vignette