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Corrida de Tora

Nas primeiras edições dos Jogos dos Povos Indígenas, as Corridas de Tora eram apenas eventos demonstrativos. Entretanto, com o grande sucesso, as exibições, passaram a ser disputadas entre as etnias.


Como o próprio nome sugere, essa é uma prova em que os participantes deverão correr enquanto seguram uma tora de madeira. Geralmente essas toras podem pesar mais de 100 quilos.


As principais etnias que participam tradicionalmente dessa modalidade, em suas vidas cotidianas, são: os Xavantes, os Xerente, os Gaviões Kyikatêje-parakateyês, os Kanela, os Krikati e os Krahô. Porém, nos Jogos dos Povos Indígenas, até mesmo as etnias que não realizam essa corrida de forma tradicional, podem participar da corrida.


Cada cultura possui diferenças na modalidade, por isso, nos Jogos, existem dois momentos: a demonstração e a competição.


Nas demonstrações, cada etnia corre com a tora que é tradicional de sua cultura, expressando suas especificidades. Almeida (2009) apresenta as principais diferenças entre a Corrida de Tora do povo Gavião e do povo Kanela:


Os Gavião Kyikatejê do Pará, antes de iniciarem a corrida (denominada Jãmparti), colocam duas toras de aproximadamente 3 metros de altura, apoiadas na areia sobre extremidade de diâmetro maior, ornamentada com algodão, visto que essa tora apresenta uma diferença de diâmetro entre as extremidades. Os corredores, de mãos dadas, se posicionam ao redor das toras cantando e dançando, como preparação para atividade. Entre os Gavião, as toras são erguidas com a ajuda de todos os participantes e conduzidas por dois indígenas de cada vez, que as carregam nos ombros com a extremidade de maior diâmetro à frente. Para a passagem da tora a outra dupla, há uma pequena pausa até que esteja segura por outros dois índios. Os Kanela, tanto homens quanto mulheres, correm com toras de aproximadamente 1 metro de comprimento por 30 centímetros de diâmetro. A tora é conduzida individualmente com grande velocidade, com acompanhamento de outros indígenas, que auxiliam o corredor equilibrando-a. A passagem é dinâmica, e o condutor da tora realiza um giro colocando-a sobre o ombro do companheiro.

Melatti (1976) apresenta que entre os Krahôs, toda corrida de tora está sempre associada a algum rito. A cada rito, haverá grupos específicos, formatos de tora e percursos diferentes.


Assim como já apresentamos, cada etnia possui tipos de toras diferentes, entretanto, assim como Melatti (1976) nos diz, grande maioria das toras é confeccionada com tronco de buriti. Mas as formas variam segundo os ritos.


Durante a estação seca, os índios correm com um par de toras chamadas Wakmeti. São cilindros de buriti, cuja altura é menor que o diâmetro da base. Geralmente trazem, nas suas bases, desenhos geométricos em cor vermelha. O contrário ocorre na estação chuvosa, quando se utilizam as toras Katamti, também de buriti, mas de altura maior que o diâmetro, e com desenhos negros nas bases. O Katamti varia muito de tamanho; pode ser maciço, bem escavado em cada base ou completamente oco (Melatti, 1976, p. 4).

Toda tora apresenta uma rasa cavidade, formando uma borda pela qual o corredor a segura com a mão, a fim de mantê-la firme aos ombros.


Há, entretanto, um par de toras, usado uma vez por ano, em que essa cavidade se reduz a um pequeno furo no centro de cada base. Essas toras se chamam “Buraco de Pica-Pau”, sem dúvida numa alusão a seus pequeninos orifícios. Já as toras Perteré, com que também se corre uma vez por ano, ao invés de cavidades, dispõem de cabos, que as atravessam pelo eixo, dando-lhes a aparência de grandes rolos de esticar massa de pastel. Não são de buriti e os corredores as mantêm aos ombros segurando-as pelos cabos. Há também aquelas chamadas “Tora da Batata-doce” ou “Grande Tronco”, confeccionadas uma vez por ano, no tempo da colheita do vegetal que lhes dá o nome. Também não são de buriti, mas de madeira. Têm a altura quase igual ao diâmetro. Numa das cavidades de cada tora se coloca uma torinha bem pequena. Com essas torinhas meninos e meninas começam a correr, seguidos dos homens, com as toras maiores. No início da estação chuvosa se faz uma corrida com toras chamadas “Sucuriju”. São troncos de uns seis metros de altura, por uns 12 centímetros de diâmetro na base maior. Essa extremidade mais grossa se considerar a “cabeça” da “Sucuriju”, enquanto a mais fina, o “rabo”. A corrida se inicia a umas poucas centenas de metros da aldeia. O corredor põe a “cabeça” da “Sucuriju” no ombro e deixa o “rabo” se arrastar no chão. Na mesma época se corre com as toras chamadas “Pati da Chapada”, que são minúsculos cilindros (não sei se feitos de pati) com uns 15 centímetros de altura (Melatti, 1976, p. 4-5).

Já na modalidade competitiva, para manter uma realização justa para todas as etnias, a Corrida de Tora sofreu um processo de regulamentação.


Cada equipe poderia inscrever, no máximo, quinze integrantes.


A tora usada na 9ª edição dos Jogos, realizada em Pernambuco, foi a confeccionada pelo povo Xavante, tendo aproximadamente 80 centímetros de altura por 50 centímetros de diâmetro, feita de madeira de Buriti, árvore típica da região que habitam no Centro-Oeste brasileiro.


Vence a prova a equipe que fizer duas voltas do trajeto (um percurso retangular demarcado por cones) no menor tempo.


A competição é acompanhada por cinco juízes não indígenas, que avaliam as equipes. As toras usadas, assim como o número de voltas a serem dadas e o tamanho do percurso é definido pela comissão organizadora, a cada evento. Duas equipes escolhidas por meio de um sorteio prévio participam da largada.


As normas da Corrida de Tora do IX Jogos dos Povos Indígenas foram:


  1. A competição será dirigida e observada por, pelo menos, cinco “juízes” neutros, não indígenas;

  2. Cada etnia deverá formar uma equipe com 12 atletas corredores e mais três reservas;

  3. As toras que serão usadas nesta prova deverão ser preparadas pela comissão organizadora.

  4. A largada e chegada da corrida serão em frente à oca como é a tradição indígena.

  5. Os competidores terão que dar 02(duas) voltas na pista, dentro da arena.

  6. Caso haja empate na segunda largada, haverá a terceira largada. Os chefes de cada equipe serão chamados para um outro sorteio (par/impar ou cara/coroa).

  7. A escolha da tora com que cada equipe irá correr será feita por sorteio.

  8. A largada será sempre entre duas etnias (equipes), escolhidas num sorteio prévio.

  9. Será utilizado o sistema de eliminatória simples em todas as fases, até chegar a um ganhador maior.



 

Referências


ALMEIDA, Arthur José Medeiros de. IX jogos dos povos indígenas: registro da memória. In.: PINTO, Leila Mirtes Santos de Magalhães; GRANDO, Beleni Saléte (Orgs.) Brincar, Jogar, Viver: IX jogos dos povos indígenas. Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer SNDEL, 2009. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/236470


MELATTI, Julio Cezar. Corrida de Toras. Revista de Atualidade Indígena, Ano I, nº 1, p. 38-45, Brasília: FUNAI, 1976.


VIII Jogos dos Povos Indígenas.

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