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Ciclismo

O ciclismo esteve presente em todas as edições olímpicas da era Moderna, mas ao longo do século passado houve várias alterações nos tipos de provas. Segundo Freitas e Barreto (2016), algumas deixaram de existir, outras surgiram e novas modalidades foram criadas.


A bicicleta surgiu como uma evolução de várias invenções. Ilustrações de Leonardo Da Vinci, datadas do fim do século XV, já mostravam esboços de algo muito parecido com uma bicicleta. Da Vinci ao combinar meios de transmissão de força em roldanas, desenvolveu o princípio da corrente que até hoje impulsiona todas as bicicletas.



Historicamente há uma discussão sobre sua origem. Os alemães dizem que foi Karl Drais, no início do século XIX, ao criar um velocípede. Os franceses, por sua vez, dizem que foi o conde Mede de Sivrac (do qual até mesmo sua existência é questionada), criador de um aparelho chamado celerífero, no fim do século XVIII.


Os velocípedes, primórdios de nossas bicicletas, foram inventados em 1863, pelos irmãos Pierre e Ernest Michaud, logo se tornando uma forma de diversão apreciada pelas elites. Depois de um longo processo de evolução, passando inclusive por uma fase na qual as rodas dianteiras eram de maior tamanho para facilitar o deslocamento, no final do século XIX as bicicletas começam a ganhar a forma atualmente conhecida. No início não se tratava de uma prática de competição, nem tampouco um meio de transporte como nos dias de hoje, mas uma forma de passear, aproveitar as paisagens nos momentos de lazer. Desde o final da década de 1860, começam a circular nos jornais brasileiros os primeiros anúncios de vendas de "velocípedes ". Mas foi mesmo a partir dos anos de 1890 que começaram a ser importadas bicicletas de Paris em escala comercial (as mais famosas importadoras eram: Bicycle-tes Clement e Bicycletes Lambert). Os preços eram bastante elevados, sendo sua aquisição somente possível aos mais abastados financeiramente. Ainda assim, a importação barateava os custos, pois antes era necessário ir à Europa para comprá-las. Era também uma forma de identificação com o mundo europeu. Em 1898, instala-se na cidade de São Paulo a Casa Luiz Caloi, a primeira fábrica nacional de bicicletas (MELO, 2007, p. 18).

As primeiras competições de que se tem registro foram disputadas na França: de velódromo, em Saint Cloud, em 1868; e de estrada, entre Paris e Rouen, no ano seguinte.



No Brasil, é no final do século XIX que se organizam as primeiras corridas de velocípedes.


Inicialmente o esporte se organizara na cidade de São Paulo, com a abertura de um velódromo na Rua da Consolação (1895), no mesmo ano em que na cidade de Porto Alegre se organizara a União Velocipédica de Amadores, cuja primeira prova oficial somente foi realizada em 1898, já no velódromo construído na Rua Voluntários da Pátria. Anteriormente, as atividades aconteciam no Prado Independência. Aliás, também no Rio de Janeiro e em São Paulo, houve corridas de bicicletas disputadas em hipódromos entre os pareos de cavalos. A importação de bicicletas contribuiu para a popularização da prática entre as elites das cidades. Na capital paulista, o Esporte Clube Internacional for criado para a prática das corridas de bicicleta, em 1898, e posteriormente também se tornaria um centro de ginástica, halterofilismo e lutas romanas. No Rio de Janeiro, as provas eram disputadas no Velódromo Nacional (situado na Rua do Lavradio), sob responsabilidade do Velo Club, criado em 1896, com a liderança de Francisco Satamini, importante personagem das elites cariocas que depois estaria envolvido com o Clube Atlético da Tijuca (dedicado ao ciclismo e às corridas a pé) [...] (MELO, 2007, p. 29).

Atualmente, nas provas olímpicas há disputas de pista (velódromos), estrada (circuitos de rua ou rodovias), BMX (pista com obstáculos ou ondulações) e mountain bike (trilhas).


 

Ciclismo de Pista


Criada como opção às provas de estrada para os meses de inverno, essa modalidade acabou se tornando a mais popular do ciclismo olímpico. Ao todo são cinco provas, realizadas no velódromo.



Velódromo (FREITAS; BARRETO, 2016, p. 59)


Velocidade: em provas eliminatórias, os ciclistas competem de 2 em 2 e apenas os 200 metros finais de um trajeto de 1.000 metros são cronometrados. A ordem de largada é decidida por sorteio (sair na frente é considerado desvantajoso, porque torna o ciclista vulnerável a um ataque na última volta). A prova começa com as bicicletas presas num bloco que só libera a roda traseira após o tiro de largada. O primeiro a cruzar a linha de chegada é o vencedor (FREITAS; BARRETO, 2016, p. 59).


Velocidade por equipes: também disputada em provas eliminatórias, mas cada equipe larga de uma reta e não há ultrapassagens. Cada integrante da equipe (3 para os homens e 2 para as mulheres) é responsável por uma volta e sai da pista ao completa-la (FREITAS; BARRETO, 2016, p. 59).


Perseguição por equipes: aqui também as provas são eliminatórias e a largada, em sentidos opostos. Mas os integrantes da equipe (4, tanto para homens quanto para mulheres) permanecem na pista até o fim de um trajeto de 4.000m. O tempo é marcado quando a quinta roda (ou seja, a roda da frente da bicicleta do terceiro ciclista) cruza a linha de chegada. Na final, uma equipe pode vencer antes da chegada, se alcançar a outra (FREITAS; BARRETO, 2016, p. 59).


Keirin: incluída em Sidney 2000. Oito ciclistas ficam alinhados de acordo com um sorteio e o primeiro é obrigado a seguir uma bicicleta elétrica (chamada de derny), que dita o ritmo inicial da prova. No momento em que a derny se retira da pista, os ciclistas, a cerca de 50km/h, brigam pelas melhores posições nos 700m finais de um trajeto de 2.000m (FREITAS; BARRETO, 2016, p. 59).


Omnium: Incluída em Londres 2012, entrou no lugar da prova de Madison (50km).

Os ciclistas se enfrentam em 6 provas. Nas 5 primeiras (contrarrelógio, corrida por pontos, eliminação, perseguição individual e scratch), o vencedor ganha 40 pontos; o segundo, 38; e assim sucessivamente. Os ciclistas levam essa pontuação somada para a última prova, a volta lançada, de 40km. Nela, os primeiros colocados a cada 10 voltas ganham pontos: 5, 3, 2 e 1; e se um ciclista abre uma volta de vantagem ganha 20 pontos, enquanto o adversário ultrapassado perde 20. Quem somar mais pontos na linha de chegada é o vencedor (FREITAS; BARRETO, 2016, p. 59).


As bicicletas usadas nas provas de velocidade são feitas de metal leve, geralmente carbono, com quadros com o garfo bem angulado, garantindo, assim, uma melhor estabilidade. O guidom é retorcido, com pegada que exige que o ciclista projete o corpo à frente. Os aros são feitos de fibra de carbono, redondos na roda de trás, para diminuir a resistência do ar, e os pneus são leves e estreitos, para reduzir o atrito com a pista. As bicicletas possuem marcha única e pesada, assim os ciclistas devem começar a pedalar antes para ganhar velocidade, e não possuem freio, tendo que se deslocar para parte interna da pista e parar de pedalar para diminuir sua velocidade.


O uniforme:


  • Capacete:

    • feito de fibra com revestimento interno de isopor. Tem formato aerodinâmico para diminuir o atrito do ar.

  • Traje:

    • o mais comum é o macaquinho, peça única aderente ao corpo, normalmente de lycra. Dependendo da prova, os ciclistas usam camisa e bermuda aderente. Tanto o calção quanto o macaquinho têm fundo acolchoado, para garantir proteção extra.

  • Luvas:

    • imprescindíveis em caso de quedas, ja que as mãos são usadas para proteção e apoio.

  • Sapatilhas:

    • feitas de microfibras sintéticas e nylon, devem ser muito leves e garantir conforto e ventilação. O solado tem travas para aderir ao pedal.



 

Ciclismo de Estrada


As corridas de rua são as mais antigas do ciclismo. Nos Jogos Olímpicos, as disputas são realizadas num percurso único, e não em etapas, como na famosa Volta da França, por exemplo. Homens e mulheres disputam medalhas em duas provas.


Ciclismo de estrada (FREITAS; BARRETO, 2016, p. 60)

Estrada: todos os ciclistas largam juntos e o primeiro a cruzar a linha de chegada é o vencedor. O percurso é de 241,5km para homens e 141km para mulheres. O percurso das provas olímpicas é traçado pelas ruas e estradas da cidade-sede, e pode ter diferentes tipos de piso, aclives e declives. Motocicletas fazem o trajeto à frente dos ciclistas, para se certificar de que não haverá interrupções.

As bicicletas usadas nas provas de estrada possuem o quadro em formato de losango (forma mais comum). As bicicletas possuem marchas, permitindo, assim, a mudança do peso da pedalada ao longo da prova. Os aros são retos, tanto na roda dianteira quanto na traseira, e os freio são integrados ao guidom, para serem usados sem aumentar o esforço.


Contrarrelógio: os ciclistas largam individualmente, a intervalos de 90 segundos, e vence quem cruzar a linha de chegada no menor tempo. O percurso é de 54,5km para homens e 29,8km para mulheres.


As bicicletas usadas nas provas contrarrelógio possuem o banco regulado alguns centímetros acima do guidom, para melhor aerodinâmica; guidom possui um apoio para permitir a troca de marchas em posição aerodinâmica; e os aros são semelhantes aos das bicicletas de pista.



 

BMX


Também conhecida como bicicross, surgiu nos Estados Unidos da América, no fim da década de 1960, inspirada nas competições de motocross - daí o nome, abreviatura de Bicycle Moto Cross. Estreou nos Jogos Olímpicos em Pequim 2008. É uma modalidade radical, marcada por muitos tombos.


Circuito de BMX (FREITAS; BARRETO, 2016, p. 61)

O BMX olímpico possui apenas provas individuais para homens e mulheres, disputadas no formato supercross e estilo livre.


Na prova de supercross, os ciclistas largam juntos e vence quem cruzar primeiro a linha de chegada. A competição é dividida em baterias de 8 atletas, com os quatro primeiros passando à fase seguinte, até a final.



Na prova de estilo livre (incluída nos Jogos de Tóquio 2021), os atletas devem percorrer um circuito com rampas, obstáculos e transições, entretanto, a maior diferença é que, ao invés de ser uma prova de velocidade, como as outras modalidades, é uma prova voltada totalmente para a execução. Após a apresentação, uma mesa formada por juízes avalia as manobras, considerando o estilo, a execução e a dificuldade de cada uma. Cada um dá uma nota, que varia de 0 a 100. Depois, as notas são somadas, e o atleta com a maior pontuação vence a competição (assim como no skate e no surf, por exemplo).



A pista (ver imagem acima) é de terra, com trechos de asfalto e concreto, ondulações e curvas planas. Possui obstáculos espalhados pelo percurso, podendo ter até 13 metros. Sua extensão é de 300 a 400 metros, tendo, ao final da pista, um espaço para desaceleração.


As bicicletas de BMX são mais compactas e resistentes que as de pista e estrada. Possuem rodas aro 20 (51cm), marcha única, freio único e quadro resistente para suportar os saltos.


 

Mountain Bike


A mais jovem modalidade do ciclismo olímpico nasceu em 1976, quando foram regulamentadas as provas para bicicletas adaptadas às pedaladas em montanhas, e é disputada nos Jogos desde Atlanta 1996.


Pista de Mountain Bike (FREITAS; BARRETO, 2016, p. 63)

A pista (ver imagem acima) possui extensão entre 40km e 50km (total do percurso, dividido em voltas - mais para homens do que para mulheres), que inclui trilhas, subidas ingrimes, terrenos acidentados com obstáculos naturais e trechos de asfalto (estes últimos não podem exceder 15% do total). Locais com serviços de reparos de bicicletas e postos de alimentação e hidratação são colocados ao longo do percurso.


As bicicletas de Mountain Bike possuem quadros baixos para permitir manobras em pé, freios hidráulicos, como os das motocicletas, pedais ajustáveis, com fixação para os pés, pneus largos, com relevos para enfrentar pisos difíceis e suspensão para diminuir os impactos nos saltos e manter estabilidade nos terrenos irregulares.




 

Referências:


BITENCOURT, Valéria; AMORIM, Simone. Bicicross - BMX In.: DACOSTA, Lamartine. Atlas do esporte no Brasil: Atlas do Esporte, Educação Física e Atividades Físicas de Saúde e Lazer no Brasil. 2003, p. 295-296.


BITENCOURT, Valéria; AMORIM, Simone. Mountain bike - MTB In.: DACOSTA, Lamartine. Atlas do esporte no Brasil: Atlas do Esporte, Educação Física e Atividades Físicas de Saúde e Lazer no Brasil. 2003, p. 293-294.


ESPÍRITO-SANTO, Giannina do. Ciclismo. In.: DACOSTA, Lamartine. Atlas do esporte no Brasil: Atlas do Esporte, Educação Física e Atividades Físicas de Saúde e Lazer no Brasil. 2003, p. 289-292.


FREITAS, Armando; BARRETO, Marcelo. Almanaque Olímpico. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2016.

MELO, Victor Andrade de. Dicionário do Esporte no Brasil: do século XIX ao início do século XX. Campinas, SP: Autores Associados; Rio de Janeiro: Decania do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, através da sua Coordenação de Integração Acadêmica de Pós-Graduação, 2007.

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