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Catira

Atualizado: 27 de nov. de 2023

A Catira é uma dança brasileira, típica da região centro-oeste do Brasil. Sobre sua origem, Luís da Câmara Cascudo (2012, p. 185) diz:


Stradelli crê o cateretê indígena. Artur Ramos, africano. Ezequiel, citado por Teófilo Braga, deduziu-o como a dança do séc. XVI que se chamou carretera em Portugal. A dança tem algns [sic] elementos fixos, apresentando variações na música e na coreografia. [...] ao som de palmas e de bate-pés, guiados pelos violeiros que dirigem o bailado.

Cardoso e Macedo (2022), ao apresentarem a sistematização do trabalho pedagógico de Educação Física a partir da possibilidade de intervenção da Catira, uma dança popular típica da região centro-oeste do Brasil, desenvolvida com turmas de 1° ano do Ensino Fundamental, de forma pedagógica definem a Catira


como uma dança, de origem incerta, com traços da união cultural de negros, indígenas e europeus, caracterizada por ter coreografias pautadas em sapateados e palmas que acompanham a música tocada no instrumento chamado Viola Caipira. A partir desta breve definição identificamos elementos que são fundamentais para que a Catira aconteça: os Catireiros (dançadores de Catira), os Violeiros (tocadores de Viola Caipira), e a Moda de Viola (música tocada durante a dança) (p. 3).

Geralmente as coreografias são executadas por homens (hoje em dia já existem grupos de catira que são mistos e grupos que só possuem mulheres), formadas por seis a dez dançadores e uma dupla de violeiros que tocam e cantam as modas de viola.


Este estilo da música sertaneja, cantado durante a Catira, tem como característica a exposição da vida cotidiana dos “caipiras” através das histórias cantadas por uma dupla que, ao mesmo tempo que cantam, ponteiam a Viola Caipira, transformando o instrumento em uma “terceira” voz.


Segundo Teixeira (2012), as catiras são acontecimentos coletivos voltados para a reunião de parentes e pessoas conhecidas que possuem como laço de relação a dança. Em sua origem era geralmente realizada durante a noite, ou em dias festivos, pois, como bem apresenta Teixeira (2012), os “atores da catira” – os Catireiros – são representados por trabalhadores rurais, que durante o dia estão trabalhando: um longo dia de trabalho “roçando pasto, fazendo farinha ou capinando a roça tem que ser compensado por uma noitada de catira” (PESSOA apud TEIXEIRA, 2012, p. 29).


O Violeiro – tocador de Viola Caipira – é um elemento que ultrapassa a Catira e se insere na cultura brasileira e essa inserção caminha lado a lado com o processo de interiorização do instrumento musical. A Viola chega ao Brasil junto com os colonizadores portugueses e torna-se um dos principais instrumentos musicais usados pelos Jesuítas durante a catequização dos povos indígenas. Ivan Vilela (2015) apresenta que durante os três primeiros séculos da colonização a Viola era o principal instrumento acompanhador de cantos. Desde então, a Viola faz parte do cotidiano do povo que aqui foi se criando, e foi se espalhando para o interior do Brasil, sendo levada nas bagagens dos bandeirantes e tropeiros. A partir desse processo de interiorização dos Violeiros e da Viola, a forma de tocar, de cantar, de dançar e o próprio instrumento sofreram transformações. Assim, encontramos nas diferentes regiões do Brasil, diferentes tipos de Viola: a Viola Caipira, a Viola Fandangueira ou Caiçara, a Viola de Queluz, a Viola Dinâmica (utilizada por repentistas nordestinos), e modelos mais rústicos e artesanais, como a Viola de Cocho e a Viola de Buriti (CARDOSO; MACEDO, 2022, p. 4).

Fonte: Imagem retirada do texto de Cardoso e Macedo (2022, p. 4)


Assim como apresenta Cardoso e Macedo (2022), das violas apresentadas na imagem acima, na Catira prevalece o uso da Viola Caipira, instrumento amplamente utilizado nos diferentes estilos e ritmos da música sertaneja, entre eles as Modas de Violas.


Nos intervalos entre uma estrofe e outra a dupla executa na Viola um ritmo chamado de “recortado” e é neste momento que os Catireiros fazem suas coreografias. Assim, a Catira é uma dança que intercala momentos de cantoria (em que os Catireiros ficam descansando), e momentos de dança (em que os cantadores descansam sua voz), ou seja, não há dança durante o canto e não há canto durante a dança.


Abaixo está um exemplo de uma Moda de Viola com Catira. Assim como apresentado anteriormente, durante a cantoria não há Catira.

Fonte: As Três Cuiabanas. Intérprete: João Mulato e Douradinho. Compositor: . In.: Clássicos da Moda de Viola. João Mulato e Douradinho. Tratore, 2012.


Para que o som do sapateado seja realçado durante as apresentações, usa-se um tablado de madeira como base, e os catireiros usam sapatos, geralmente botinas, com sola de ferro, similares aos sapatos usados no sapateado.


Assim como outras danças populares, a Catira evoca tradição e exprime o sentimento de pertença e de transmissão entre determinados grupos. Percebemos essa concepção na fala de Nonô Basílio (grande compositor da música sertaneja), durante um dos programas “Viola, Minha Viola” (apresentado por Moraes Sarmento, 1980), quando é questionado sobre o que é a Catira Folclórica. Para ele, a catira folclórica é um símbolo de resistência, dançada após os folguedos.


Trecho do programa “Viola, Minha Viola”, apresentado na década de 1980, por Moraes Sarmento e Nonô Basílio, com a participação de G. Rosa e a dupla Irídio e Irineu - https://www.youtube.com/watch?v=oTZVizpMJtg


Para os Catireiros, a Catira está longe de ser apenas uma simples dança, é parte de sua vida, registro de sua tradição.


Vieira e Vieirinha dançam Catira no Programa “Na Beira da Tuia”, apresentado por Tonico e Tinoco - https://www.youtube.com/watch?v=RHbWXZ2fjv8




 

Referências:


CARDOSO, Gabriel Garcia Borges; MACEDO, Eliene Nunes. Catira Digital: as danças populares nas aulas de Educação Física em formato remoto. Praxia - Revista on-line de Educação Física da UEG, v. 4, p. e2022008, 1 ago. 2022. Disponível em: https://doi.org/10.31668/praxia.v4i0.13087


TEIXEIRA, Maisa França. Espaços e territorialidades do “festejar” da catira no estado de Goiás. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2012.


VILELA, Ivan. Cantando a Própria História: Música Caipira e Enraizamento. 1. ed. 1. reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015.

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