top of page

Bumba-meu-boi

Bumba-meu-boi, Boi-bumbá, Boi Surubi, Boi Calemba, Boi-de-mamão, Boi Pintadinho, Boi Maiadinho, Boizinho, Boi Barroso, Boi Canário, Boi Jaraguá, Boi de Canastra, Boi de Fita, Boi Humaitá, Boi de Reis, Reis de Boi, Boi Araçá, Boi Pitanga, Boi Espaço, Boi de Jacá, Folguedo do Boi, são várias formas de dar nome à uma tradição secular brasileira: brincadeiras do boi.


Assim como com quase todas as manifestações tradicionais e populares - como as brincadeiras, danças populares, lutas e alguns jogos -, os estudiosos da cultura popular não conseguiram identificar, com exatidão, a origem das danças do boi no Brasil. Entretanto, as diversas pesquisas sobre seu surgimento constituem uma fonte inesgotável de hipóteses que enriquecem significativamente as discussões sobre essa expressão tão complexa quanto fascinante da cultura popular brasileira.


No Brasil, o Bumba-meu-boi tem suas origens, provavelmente, anteriores ao século XIX. Entretanto, manifestações culturais em referência ao Boi, ou que utilizam a imagem deste animal, podem ser encontradas em outros países com diferentes nomes e características. Segundo Freitag (1969):


A origem portuguêsa dêsse folguedo pode ser relacionada ao boi fingido das Tourinhas minhotas e dos Touros de Canastra, Boi de São Marcos, que entra enfeitado na Igreja com cânticos e danças, e com as Touradas cômicas. Também em Paris havia o cortejo do Boeuf Gras, que angariava donativos em frente às casas, e em vários pontos da África, procissões com o boi (Freitag, 1969, p. 360, grifo do original).

Ao longo de, pelo menos, dois séculos, o Bumba-meu-boi passou por várias fases: de vítima de preconceito no século XIX, por ser considerado brincadeira de “arruaceiros”; à expressão cultural de grande prestígio junto à sociedade maranhense e amazônica na atualidade.


De acordo com o IPHAN (2011) o Bumba-meu-boi é um termo genérico usado para referenciar quase todas as manifestações culturais populares brasileiras que possuem o boi como principal componente cênico e coreográfico.


Na região norte do Brasil, nos estados do Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima, a manifestação é conhecida como Boi-Bumbá e é celebrada durante o ciclo junino, assim como no Maranhão, onde a festa recebe diferentes denominações, como Bumba-meu-boi, Bumba-boi, Bumba ou simplesmente Boi. A diversidade de nomes também é observada nos demais estados nordestinos. Geralmente, nessas unidades federativas, a brincadeira é chamada de Bumba-meu-boi, mas ocorre no contexto das festas natalinas.


Mesmo com tantas diferenças nos nomes, a estrutura de apresentação das manifestações relacionadas ao boi, em todo Brasil, mantém características em comum:


[...] inclui um boi-artefato feito de algum tipo de madeira, conforme a região, com chifres e cobertura de pano, animado por um miolo que lhe empresta movimentos, enquanto o folguedo é executado com música, dança e dramatização. Há diversidade de enredos de acordo com o local, sendo uns mais simplórios e outros assumindo maior complexidade na composição das personagens e no desenrolar da trama que gira em torno da morte e ressurreição do boi (IPHAN, 2011, p. 18, grifo nosso)

Miolo, grifado na citação anterior, é o brincante que se introduz na armação e elabora movimentos que dão vida ao artefato. No Maranhão é também conhecida por alma, espírito, tripa ou fato (IPHAN, 2011, p. 203).


Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, o Bumba-meu-boi do Maranhão é: "antes de tudo, uma grande celebração na qual se confundem fé, festa e arte, numa mistura de devoção, crenças, mitos, alegria, cores, dança, música, teatro e artesanato, entre outros elementos" (IPHAN, 2011, p. 8).


De forma geral, as manifestações de Bumba-meu-boi envolvem música, dança, teatralidade, artesanato, religiosidade e um universo de saberes. Em cada região do Brasil, há forma de se brincar, chamados de "sotaques", dentre os quais se destacam o de baixada, matraca, zabumba, costa de mão e orquestra. O sotaque Costa da mão surgiu em regiões com população majoritariamente negra, em áreas de quilombos. O nome faz referência aos pandeiros que são tocados com o dorso das mãos, principal característica do estilo (IPHAN, 2022).


Nesta grande celebração cultural se articulam infinitas formas de expressão, entrelaçando fé, festa e arte.


Uma lenda dá origem a essa manifestação: um casal de escravizados, Pai Francisco e Mão Catirina, estavam aguardando o nascimento de seu filho. Durante a gestação, Mãe Catirina fica com desejo de comer língua de boi, fazendo com que Pai Francisco acabe sacrificando o boi mais lindo de seu senhor de escravos para satisfazer o desejo de sua esposa. Ao descobrir o ocorrido, o proprietário da fazenda chama curandeiros e pajés para ressuscitar o boi e, uma vez que o animal retorna à vida, a comunidade festeja com uma grande comemoração. Diz a lenda que após a ressurreição do boi, Francisco e Catirina recebem o perdão do dono do boi.



De forma geral, a manifestação do Bumba-meu-boi possui como tema central a morte e a ressurreição do boi. Durante o folguedo, dependendo da região em que é realizado, vários personagens podem participar da encenação, como o Cavalo-Marinho, o Arlequim, o Mateus, o Fidelis, o Bastião, a Catirina, o doutor, o padre, o capitão de campo, além de uma série de outros, que são acrescentados em diversos variantes (Freitag, 1969).


Além da manifestação no Maranhão, na cidade de Parintins (Amazonas) o Boi-Bumbá mantém sua tradição fortíssima. Anualmente, sempre na última sexta-feira, sábado e domingo do mês de junho, ocorre o Festival Folclórico de Parintins.


O festival surge de uma rivalidade iniciada há quase cem anos, quando dois grandes grupos (o boi Garantido, branco com um coração vermelho na testa; e o boi Caprichoso, preto com uma estrela azul na testa) começaram a representar nas ruas de Parintins o folclore do boi-bumbá, uma variação do bumba-meu-boi do Maranhão, que no Amazonas ganhou características próprias, incorporando as lendas e rituais das etnias indígenas e da cultura popular da Amazônia.


Recapitulando aquilo que trouxemos ao longo do texto, segundo o IPHAN (2019), os festejos relacionados a esse bem cultural acontecem de diferentes maneiras e de acordo com a localidade em que são realizados, sendo praticados em distintos momentos do ano com variações e denominações próprias na região amazônica e no Maranhão. Nesses contextos, há três principais versões da dança dramática: o Boi de Terreiro, o Boi de Rua e o Boi de Arena.


Desenhos realizados pelos alunos do 2° ano do ensino fundamental durante o estudo sobre o Boi-Bumbá.

Abaixo estão alguns vídeos sobre as manifestações do Bumba-meu-boi, típicos do Maranhão e Amazonas:









 

Referências:


FREITAG, Léa Vinocur. Influências ibéricas no folclore brasileiro. Revista de História, São Paulo, v. 38, n. 78, p. 353–382, 1969. https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/128788


IPHAN - INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Bumba-meu-boi é tema de material educativo lançado pelo Iphan. Ministério da Cultura, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/iphan/pt-br/assuntos/noticias/boi-de-costa-de-mao-e-tema-de-material-educativo-lancado-pelo-iphan


IPHAN - INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão: Dossiê do

registro como Patrimônio Cultural do Brasil. Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional. São Luís: Iphan/MA, 2011. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Dossie_bumba_meu_boi(1).pdf

Comments


bottom of page