Ballet (Balé)
- Gabriel Garcia Borges Cardoso
- 18 de dez. de 2023
- 7 min de leitura
O Ballet (balé, em português) é uma dança, uma forma de arte criada pelo movimento do corpo humano. Apresentada em formato teatral/de espetáculo, encenado em um palco para um público utilizando figurino, cenografia e iluminação. Pode contar uma história ou expressar um pensamento, conceito ou emoção. A dança de balé pode ser mágica, excitante, provocante ou perturbadora.
Maribel Portinari (1989), em seu livro História da Dança, apresenta que em Milão, entre 1435 e 1436, houve o primeiro tratado sobre a dança. Esse tratado foi escrito para a nobreza, sendo um código que criava diversas minúcias que só eram acessíveis ao entendimento dos mestres de dança. A partir desse tratado, outros documentos foram sendo escritos, e um deles conceituou o balleto, um tipo de dança para ser realizada nas cortes renascentistas como forma de entretenimento.
Segundo Bourcier (2001 apud Falcão; Martins; Silva, 2020), por volta de 1496 e 1501 foi encontrado o primeiro o livro sobre dança: L’Art et Instruction de biendancer, de Michel Toulouze.
Ossona (1988, p. 73) comenta que no Renascimento o balé assumiu uma característica de espetáculo dançante, sendo apresentado em um teatro com uma platéia que habitualmente pagava por seu ingresso; foi quando nasceu o balé tal como o conhecemos hoje (ASSUMPÇÃO, 2003, p. 3).
Durante os séculos XV e XVI, a técnica de dança se formalizou. O epicentro da arte mudou-se para França, após o casamento da aristocrata italiana Catarina de Médicis com o aristocrata francês Henrique II. Segundo a São Paulo Companhia de Dança, Balthasar de Beaujoyeulx - coreógrafo, compositor e violinista franco-italiano, servo da corte de Catarina de Médici, tutor musical dos filhos da rainha e responsável por desenvolver entretenimentos para a corte - idealizou o Ballet Comique de la Reine, em 1581, que inaugurou uma longa tradição de balés pela corte na França, atingindo seu auge com Luís XIV, em meados do século XVII.
O Balé conta o mito da Deusa Circe, que aprisiona marinheiros de Odisseu, o herói da Odisséia e da batalha de Tróia, enfeitiçando-os. O Ballet foi apresentado na ocasião do casamento da irmã da rainha, como um presente de entretenimento para a corte. Com um desenvolvimento conjunto de texto, trilha sonora e cenografia, é a primeira proposta de um teatro total (que englobasse todas as artes em prol da apresentação). A Coreografia era dividida em um prólogo, seis entradas e um gran finale, sendo a primeira de que se tem notícia a fazer essa construção, posteriormente tornada comum, de finais exagerados. O ballet, que durava cinco horas e meia tinha a coreografia majoritariamente geometrizada, como era o costume da época. Uma das entradas que ficaram célebres, com 15 bailarinos, apresentava 40 formações diferentes, sendo que todas elas, assim como seus bailarinos, ficavam voltados para o rei o tempo todo. O Ballet Comique de La Reine definiu o gênero do Ballet de Corte, tornando-se seu molde, que foi copiado durante todo o século seguinte (São Paulo Companhia de Dança).
As obras de balé de corte, originadas a partir dessa obra, eram montadas especificamente para cada uma das situações em que eram apresentadas, sendo que os próprios textos e coreografias eram propostas de significação específicas para aquele contexto, frequentemente, de forma que não eram, em geral, remontados pela sua sociedade. Apesar de haver grande interesse histórico nesses balés, todo o acesso a eles vêm da literatura, já que não houve manutenção (e sequer composição) de um repertório.
Assim como apresenta a Pittsburgh Ballet Theatre (PBT), no ano de
1661, uma academia de dança foi aberta em Paris, e em 1681 o balé passou das cortes para o palco. A ópera francesa Le Triomphe de l'Amour incorporou elementos de balé, criando uma longa tradição de ópera-balé na França. Em meados de 1700, o mestre de balé francês Jean Georges Noverre rebelou-se contra o artifício da ópera-balé, acreditando que o balé poderia se sustentar por si só como uma forma de arte. Suas noções – de que o balé deveria conter movimentos expressivos e dramáticos que revelassem as relações entre os personagens – introduziram o ballet d'action, um estilo dramático de balé que transmite uma narrativa. A obra de Noverre é considerada a precursora dos balés narrativos do século 19 (Pittsburgh Ballet Theatre, tradução livre).
De forma didática, para uma compreensão inicial, podemos dividir o Balé a partir do século 19 em duas fases:
Balé Romantico:
Os primeiros balés clássicos, como Giselle e La Sylphide, foram criados durante o Movimento Romântico na primeira metade do século 19. Esse movimento influenciou a arte, a música e o balé. Preocupava-se com o mundo sobrenatural dos espíritos e da magia e muitas vezes mostrava as mulheres como passivas e frágeis. Esses temas se refletem nos balés da época e são chamados de balés românticos. Este também é o período em que dançar nas pontas dos dedos dos pés, conhecido como trabalho de ponta, tornou-se a norma para a bailarina. O tutu romântico, uma saia cheia de tule no comprimento da panturrilha, foi introduzido (Pittsburgh Ballet Theatre, tradução livre).
Balé Clássico:
A popularidade do balé disparou na Rússia e, durante a segunda metade do século 19, coreógrafos e compositores russos o levaram a novos patamares. O Quebra-Nozes, A Bela Adormecida e O Lago dos Cisnes, de Marius Petipa, de Petipa e Lev Ivanov, representam o balé clássico em sua forma mais grandiosa. O objetivo principal era mostrar a técnica clássica – trabalho de ponta, altas extensões, precisão de movimento e turn-out (a rotação externa das pernas a partir do quadril) – ao máximo. Sequências complicadas que mostram passos exigentes, saltos e voltas foram coreografadas nas histórias. O tutu clássico, muito mais curto e rígido que o tutu romântico, foi introduzido nessa época para revelar as pernas de uma bailarina e a dificuldade de seus movimentos e trabalhos com os pés (Pittsburgh Ballet Theatre, tradução livre).
Ainda segundo a Pittsburgh Ballet Theatre (PBT), no início do século 20, os coreógrafos russos Sergei Diaghilev e Michel Fokine começaram a experimentar o movimento e o figurino, ultrapassando os limites da forma e da história do balé clássico. Diaghilev colaborou com o compositor Igor Stravinsky no balé A Sagração da Primavera, uma obra tão diferente - com sua música dissonante, sua história de sacrifício humano e seus movimentos desconhecidos - que causou revolta no público. O coreógrafo e fundador do New York City Ballet, George Balanchine, um russo que emigrou para os Estados Unidos da América, mudaria ainda mais o balé. Ele introduziu o que hoje é conhecido como balé neoclássico, uma expansão da forma clássica. Ele também é considerado por muitos como o maior inovador do balé contemporâneo "sem enredo". Sem um enredo definido, seu objetivo é usar o movimento para expressar a música e iluminar a emoção e o esforço humanos. Hoje, o balé é multifacetado. Formas clássicas, histórias tradicionais e inovações coreográficas contemporâneas se entrelaçam para produzir o caráter do balé moderno.
Uma das marcas registradas do Balé, são as sapatilhas de ponta, usadas pelas bailarinas durante as apresentações.
Embora acredita-se que essa técnica seja um pouco mais antiga, a primeira bailarina, que se tem registro, a usar uma sapatilha de ponta foi a italiana Maria Taglioni, no início da década de 1830. Segundo a Pittsburgh Ballet Theatre, Taglioni e seus contemporâneos encheram os dedos de seus sapatos macios com amido e outros materiais, mas logo os sapateiros italianos fizeram sapatos mais duros para eles usando papel, estopa e cetim. Este protótipo evoluiu para a moderna sapatilha de ponta.
Atualmente existem alguns tipos de Ballet:
Balés de história:
Eles contêm ação narrativa, personagens, um começo e um fim. O Quebra-Nozes e A Bela Adormecida são balés famosos do século 19; Histórias clássicas e romances como O Grande Gatsby e Os Três Mosqueteiros também foram transformados em balés.
Balés sem enredo:
Ao invés de terem enredo, usam o movimento do corpo e elementos teatrais para interpretar música, criar uma imagem ou expressar ou provocar emoção. O coreógrafo George Balanchine foi um prolífico criador de balés sem enredo.
Os sapatos de ponta parecem delicados, mas na verdade não são. A ponta do sapato é uma caixa rígida feita de camadas densamente embaladas de tecido, papelão e/ou papel endurecido por cola. A Escola Bolshoi Brasil, em seu canal do Youtube, disponibilizou uma série de pequenos vídeos sobre as sapatilhas de ponta:
No balé, há cinco posições básicas dos pés, numeradas de um a cinco, entretanto, atualmente, a terceira posição é pouco utilizada devido a sua semelhança com a quinta posição. Cada uma das posições utiliza turn-out, ou uma rotação de 90 graus da perna a partir da articulação do quadril. Além das posições de pernas, há os movimentos de braços, referente a cada posição (Ver imagem abaixo).

No Ballet, assim como em outras danças, há vários passos e movimentos realizados nas coreografias. Abaixo estão três movimentos iniciais, mas fundamentais, para o ensino, aprendizagem e prática do Ballet:
plie (plee-ay): dobrar. Mantendo os dois pés apoiados no chão o tempo todo, dobre os joelhos. Nesse movimento, os joelhos deverão ficar diretamente sobre os dedos dos pés.
Movimento Plie realizado pela bailarina, do PBT Corps de Ballet, JoAnna Schmidt
releve (ruh-leh-vay'): subir. Isso pode ser feito com um pé ou com os dois pés juntos. Comece com os pés juntos, mantenha os joelhos retos e levante os calcanhares altos o suficiente para que todo o seu peso corporal esteja nas bolas dos pés – NÃO nas pontas dos dedos dos pés. Repita isso com um pé.
Movimento Releve realizado pela bailarina, do PBT Corps de Ballet, JoAnna Schmidt
saute (soh-tay): pular. Esse tipo de salto é realizado "de dois pés a dois pés". Isso significa que você sai do chão pulando dos dois pés ao mesmo tempo e pousa com os dois pés ao mesmo tempo. Comece em um plie (conforme descrito acima). Usando os pés da mesma forma que você fez para realizar o relev, impulsione-se no ar. Certifique-se de endireitar e estender as pernas no ar, mas pouse em plie para amortecer os joelhos.
Movimento Saute realizado pelo bailarino, do PBT Corps de Ballet, Corey Bourbonniere
A seguir deixaremos três vídeos, sendo dois de interpretações de uma mesma dança, A Morte do Cisne, e outro de uma "ex-bailarina", que nos seus tempos de juventude foi a primeira bailarina principal de ballet em Nova Iorque.
A Morte do Cisne foi criado em 1905 por Michel Fokine (1880-1942) para a grande bailarina Anna Pavlova (1881-1931). Este balé, com a música “O cisne” de “O carnaval dos bichos” (“Le Carnaval des Animaux“), de Camile Saint-Saens (1835-1921), foi composto em 1875 e se tornou o balé assinatura da carreira da bailarina russa.
A Morte do Cisne, por Natalia Osipova (The Royal Ballet) - 2020
A Morte do Cisne, por John Lennon da Silva, no estilo Street Dance
Marta González, primeira bailarina principal de ballet em Nova Iorque
Referências
ASSUMPÇÃO, Andréa Cristhina Rufino. O balé clássico e a dança contemporânea na formação humana: caminhos para a emancipação. Pensar a Prática 6: 1-19, Jul./Jun. 2002-2003
Britannica. Ballet. Disponível em: https://www.britannica.com/art/ballet/The-establishment-of-the-ballet-daction
Escola Bolshoi Brasil. Disponível em: https://www.youtube.com/@EscolaBolshoiBrasil
FALCÃO, Hilda Torres; MARTINS, Juliana Leite; SILVA, Pâmela Sobral Monteiro da. Para além dos fouettés: O balé clássico e seus caminhos. Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 8 , p.61215-61233, aug. 2020
Pittsburgh Ballet Theatre - PTB. A Brief History of Ballet. Disponível em: https://www.pbt.org/learn-and-engage/resources-audience-members/ballet-101/brief-history-ballet/
Pittsburgh Ballet Theatre - PTB. Basic Ballet Positions. Disponível em: https://www.pbt.org/learn-and-engage/resources-audience-members/ballet-101/basic-ballet-positions/
PORTINARI, Maribel. História da dança. Editora Nova Fronteira, 1989.
São Paulo Companhia de Dança. Ballet Comique de la Reine. Disponível em: https://spcd.com.br/verbete/ballet-comique-de-la-reine/
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