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Atualizado: 1 de mai.

De forma bastante simples, podemos definir o Pião como sendo um brinquedo, geralmente de madeira e com uma ponta de ferro, com formato piriforme, cujo objetivo é fazê-lo girar. O pião, quando lançado com maestria, gira velozmente, ficando quase que estático no chão, apenas girando ao redor de si (em alguns locais, crianças dizem que quando isso ocorre o pião está "dormindo").


Existem dois tipos principais de pião, que se diferenciam a partir do modo de fazê-lo girar: o pião tradicional é girado usando um cordão, que é enrolado em seu corpo e puxado com agilidade; e a piorra, um tipo de pião que é girado usando a pressão dos próprios dedos.


A origem dessa brincadeira é incerta. Alguns historiadores dizem que sua existência se aproxima de 4000 a.C., uma vez que exemplares feitos de argila foram encontrados nas margens do rio Eufrates - é o mais longo e um dos mais importantes rios da Ásia Ocidental (Biblioteca Luis Ángel Arango, 2007).


Elkonin (2009), ao trabalhar sobre a origem do jogo, apresenta que o pião e a piorra, assim como outras brincadeiras populares nos dias de hoje, possuem relação com o ensino de determinadas funções e técnicas necessárias há algumas centenas e milhares de anos. Tanto o pião quanto a piorra possuem relação com o processo de obtenção de fogo a partir do atrito entre pedaços de madeira:


Nos períodos iniciais de desenvolvimento da humanidade, o homem, para obter fogo, friccionava um pedaço de madeira com outro. O atrito ininterrupto fazia-se melhor mediante a rotação com dispositivos em forma de furadores de diversos tipos. Os povos do Extremo Norte, para reforçar seus trenós, tinham de fazer numerosos orifícios. Essa perfuração também requeria a rotação ininterrupta [...] A aprendizagem da rotação ininterrupta era imprescindível, pois a criança que adquiria esse hábito aprendia facilmente o manejo de ferramentas cujo funcionamento era basicamente similar. Essa aprendizagem podia fazer-se não só com um modelo reduzido de furador, mas também com suas variantes modificadas. Variantes modificadas de furadores são as piorras, ou seja, fusos impelidos com os dedos e não com arco, como nos piões de chicote. Assim, tirando-se o arco do eixo do fuso, estaremos diante de uma simples piorra cujo impulso é algo prolongado (Elkonin, 2009, p. 46).

Diferentes regiões e culturas, ao longo da história, mantiveram brincadeiras semelhantes ao pião "moderno":

  • Cascudo (2012. p. 560) diz que "O strombos dos gregos e o turbo dos romanos é o mesmo jogo do pião das crianças de hoje, e data pelo menos da pré-história, da civilização, idade micenaica ou pelágica, pois figuram os "piões de argila" primitivos na coleção de Schliemann";

  • segundo Manson (2001), desde a Idade Média, o pião e a piorra já fazem parte da vida das crianças, podendo ser identificados em representações artísticas;



  • os povos indígenas Paraná (localizados atualmente dentro do Parque do Xingu), utilizam a semente do tucumã - uma fruta de uma palmeira típica da região amazônica - ou uma pequena cabaça para confeccionar um tipo de pião (Meirelles, 2014b);


Fonte: Pião de tucumã ou de cabaça. Renata Meirelles, Território do Brincar, 2014. Disponível em: https://territoriodobrincar.com.br/brincadeiras/piao-de-tucuma-ou-de-cabaca/


  • as crianças da comunidade de Entre Rios, no Maranhão, utilizam sementes de babaçú para confeccionar seus piões e se divertirem (Meirelles, 2014a).


Fonte: Pião de Babaçú. Renata Meirelles, Território do Brincar, 2014. Disponível em: https://territoriodobrincar.com.br/brincadeiras/piao-de-babacu/


Em síntese, a grande diversão de brincar de pião ou de piorra é fazer o brinquedo ficar girando por mais tempo possível.


Como brincar de pião?


Para lançar o pião, é necessário enrolar firmemente o barbante (chamado de cordel ou fieira) ao redor dele, sem deixar espaços vazios. A ponta da fieira que não está presa ao pião, deve ficar presa no dedo do lançador. Para fazer o pião girar, o brincante (aquele que brinca), deve lançar o pião, ao mesmo tempo que puxa a fieira para trás, fazendo um movimento de chicote.


Além do "simples" fazer girar o pião, existe a forma de brincar competitiva. Para isso, é necessário mais de um brincante: primeiramente é necessário fazer um círculo no chão, onde será o espaço de jogo. Os participantes deverão lançar seus respectivos piões fazendo-os girar dentro deste círculo. Nesse formato de brincadeira, ganha o pião que ficar girando por mais tempo, ou aquele que permanecer dentro do círculo, uma vez que com os movimentos, um pião pode bater no outro jogando-o para fora da marcação.


 

Referências:


BIBLIOTECA LUIS ÁNGEL ARANGO. Trompo. Biblioteca Luis Ángel Arango del Banco de la República, 2007. Disponível em: https://web.archive.org/web/20070428235006/http://www.lablaa.org/blaavirtual/ayudadetareas/objetos/objetos56.htm


CASCUDO, Luís Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 12. ed. São Paulo: Global, 2012.


ELKONIN, Daniil B. Psicologia do jogo. Tradução de Álvaro Cabral. 2. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.


MANSON, Michel. História do Brinquedo e dos Jogos: brincar através dos tempos. Tradução de: Carlos Correia Monteiro de Oliveira. Lisboa, Portugal: Editorial Teorema, 2001.


MEIRELLES, Renata. Pião de babaçú. Território do Brincar, 2014a. Disponível em: https://territoriodobrincar.com.br/brincadeiras/piao-de-babacu/


MEIRELLES, Renata. Pião de tucumã ou de cabaça. Território do Brincar, 2014b. Disponível em: https://territoriodobrincar.com.br/brincadeiras/piao-de-tucuma-ou-de-cabaca/

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