Pião
- Gabriel Garcia Borges Cardoso
- 29 de abr. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 1 de mai. de 2024
De forma bastante simples, podemos definir o Pião como sendo um brinquedo, geralmente de madeira e com uma ponta de ferro, com formato piriforme, cujo objetivo é fazê-lo girar. O pião, quando lançado com maestria, gira velozmente, ficando quase que estÔtico no chão, apenas girando ao redor de si (em alguns locais, crianças dizem que quando isso ocorre o pião estÔ "dormindo").
Existem dois tipos principais de pião, que se diferenciam a partir do modo de fazê-lo girar: o pião tradicional é girado usando um cordão, que é enrolado em seu corpo e puxado com agilidade; e a piorra, um tipo de pião que é girado usando a pressão dos próprios dedos.
A origem dessa brincadeira Ć© incerta. Alguns historiadores dizem que sua existĆŖncia se aproxima de 4000 a.C., uma vez que exemplares feitos de argila foram encontrados nas margens do rio Eufrates - Ć© o mais longo e um dos mais importantes rios da Ćsia Ocidental (Biblioteca Luis Ćngel Arango, 2007).
Elkonin (2009), ao trabalhar sobre a origem do jogo, apresenta que o pião e a piorra, assim como outras brincadeiras populares nos dias de hoje, possuem relação com o ensino de determinadas funções e técnicas necessÔrias hÔ algumas centenas e milhares de anos. Tanto o pião quanto a piorra possuem relação com o processo de obtenção de fogo a partir do atrito entre pedaços de madeira:
Nos perĆodos iniciais de desenvolvimento da humanidade, o homem, para obter fogo, friccionava um pedaƧo de madeira com outro. O atrito ininterrupto fazia-se melhor mediante a rotação com dispositivos em forma de furadores de diversos tipos. Os povos do Extremo Norte, para reforƧar seus trenós, tinham de fazer numerosos orifĆcios. Essa perfuração tambĆ©m requeria a rotação ininterrupta [...] A aprendizagem da rotação ininterrupta era imprescindĆvel, pois a crianƧa que adquiria esse hĆ”bito aprendia facilmente o manejo de ferramentas cujo funcionamento era basicamente similar. Essa aprendizagem podia fazer-se nĆ£o só com um modelo reduzido de furador, mas tambĆ©m com suas variantes modificadas. Variantes modificadas de furadores sĆ£o as piorras, ou seja, fusos impelidos com os dedos e nĆ£o com arco, como nos piƵes de chicote. Assim, tirando-se o arco do eixo do fuso, estaremos diante de uma simples piorra cujo impulso Ć© algo prolongado (Elkonin, 2009, p. 46).
Diferentes regiões e culturas, ao longo da história, mantiveram brincadeiras semelhantes ao pião "moderno":
Cascudo (2012. p. 560) diz que "O strombos dos gregos e o turbo dos romanos é o mesmo jogo do pião das crianças de hoje, e data pelo menos da pré-história, da civilização, idade micenaica ou pelÔgica, pois figuram os "piões de argila" primitivos na coleção de Schliemann";
segundo Manson (2001), desde a Idade MĆ©dia, o piĆ£o e a piorra jĆ” fazem parte da vida das crianƧas, podendo ser identificados em representaƧƵes artĆsticas;
os povos indĆgenas ParanĆ” (localizados atualmente dentro do Parque do Xingu), utilizam a semente do tucumĆ£ - uma fruta de uma palmeira tĆpica da regiĆ£o amazĆ“nica - ou uma pequena cabaƧa para confeccionar um tipo de piĆ£o (Meirelles, 2014b);
Fonte: PiĆ£o de tucumĆ£ ou de cabaƧa. Renata Meirelles, Território do Brincar, 2014. DisponĆvel em: https://territoriodobrincar.com.br/brincadeiras/piao-de-tucuma-ou-de-cabaca/
as crianças da comunidade de Entre Rios, no Maranhão, utilizam sementes de babaçú para confeccionar seus piões e se divertirem (Meirelles, 2014a).
Fonte: PiĆ£o de Babaçú. Renata Meirelles, Território do Brincar, 2014. DisponĆvel em: https://territoriodobrincar.com.br/brincadeiras/piao-de-babacu/
Em sĆntese, a grande diversĆ£o de brincar de piĆ£o ou de piorra Ć© fazer o brinquedo ficar girando por mais tempo possĆvel.
Como brincar de pião?
Para lançar o pião, é necessÔrio enrolar firmemente o barbante (chamado de cordel ou fieira) ao redor dele, sem deixar espaços vazios. A ponta da fieira que não estÔ presa ao pião, deve ficar presa no dedo do lançador. Para fazer o pião girar, o brincante (aquele que brinca), deve lançar o pião, ao mesmo tempo que puxa a fieira para trÔs, fazendo um movimento de chicote.
AlĆ©m do "simples" fazer girar o piĆ£o, existe a forma de brincar competitiva. Para isso, Ć© necessĆ”rio mais de um brincante: primeiramente Ć© necessĆ”rio fazer um cĆrculo no chĆ£o, onde serĆ” o espaƧo de jogo. Os participantes deverĆ£o lanƧar seus respectivos piƵes fazendo-os girar dentro deste cĆrculo. Nesse formato de brincadeira, ganha o piĆ£o que ficar girando por mais tempo, ou aquele que permanecer dentro do cĆrculo, uma vez que com os movimentos, um piĆ£o pode bater no outro jogando-o para fora da marcação.
ReferĆŖncias:
BIBLIOTECA LUIS ĆNGEL ARANGO. Trompo. Biblioteca Luis Ćngel Arango del Banco de la RepĆŗblica, 2007. DisponĆvel em: https://web.archive.org/web/20070428235006/http://www.lablaa.org/blaavirtual/ayudadetareas/objetos/objetos56.htm
CASCUDO, LuĆs CĆ¢mara. DicionĆ”rio do Folclore Brasileiro. 12. ed. SĆ£o Paulo: Global, 2012.
ELKONIN, Daniil B. Psicologia do jogo. Tradução de Ćlvaro Cabral. 2. ed. SĆ£o Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.
MANSON, Michel. História do Brinquedo e dos Jogos: brincar através dos tempos. Tradução de: Carlos Correia Monteiro de Oliveira. Lisboa, Portugal: Editorial Teorema, 2001.
MEIRELLES, Renata. PiĆ£o de babaçú. Território do Brincar, 2014a. DisponĆvel em: https://territoriodobrincar.com.br/brincadeiras/piao-de-babacu/
MEIRELLES, Renata. PiĆ£o de tucumĆ£ ou de cabaƧa. Território do Brincar, 2014b. DisponĆvel em: https://territoriodobrincar.com.br/brincadeiras/piao-de-tucuma-ou-de-cabaca/